Menino, muito simples teu roteiro,
e pleno, não exclui, jamais, ninguém:
o último é o que conta por primeiro;
coragem é ser bem, no mal e bem;
nobreza é ser da paz o jardineiro.
Se o troco para o mal revide for,
ficamos cada um como refém
do mal que oprime, trai, exclui, faz dor,
em vez de ao Novo abrir-nos – pois que vem
pedindo parceria, com vigor.
Menino, mãos à obra em teu canteiro!
Natal, lição pra todos: ser amor.
Menino, te encontrar naquela gruta,
te ver como alijado do bem-vindo
é indício de um futuro de labuta.
Seria um paraíso claro e lindo
o mundo, se aguçássemos a escuta!
Tu chegas nos fazendo a gentileza
de vir como quem vê e vai ouvindo
primeiro os pequeninos, da pobreza,
tomando-os como crivo, nos abrindo
os olhos para a paz – eis tua empresa!
Menino, não recuas nessa luta!
Natal: lição que anima a ser firmeza
Menino, teu silêncio na chegada
desvenda-nos teu método na lida.
Não és de impor o rumo para a estrada,
mas és de clarear-nos a medida:
só o céu fecunda a paz nesta jornada!
E então o desafio é a contramão:
em vez de olhar cruel, mão estendida;
em vez de mão feroz, olhar de irmão;
em vez de lei sem dó, voz de acolhida;
em vez de voz que impõe, a mansidão!
Menino, coração que não se enfada!
Natal: lição que leva a ser perdão.
Menino, teu silêncio na chegada
desvenda-nos teu método na lida.
Não és de impor o rumo para a estrada,
mas és de clarear-nos a medida:
só o céu fecunda a paz nesta jornada!
E então o desafio é a contramão:
em vez de olhar cruel, mão estendida;
em vez de mão feroz, olhar de irmão;
em vez de lei sem dó, voz de acolhida;
em vez de voz que impõe, a mansidão!
Menino, coração que não se enfada!
Natal: lição que leva a ser perdão.
Menino, mas que escolha tu fizeste!
Pautamos pela força o nosso ganho,
mas tu vens pequenino, assim quiseste;
buscamos ser destaque no rebanho,
mas dizes que servir é o melhor teste.
Sonhamos uma paz – com sensatez?
Sonhamo-la de um modo um tanto estranho:
sonhamo-la pra nós. Sem nitidez:
não sendo para todos, no tamanho,
é apenas ilusão, mais uma vez.
Menino, que o teu Reino nos conteste!
Natal: lição que chama à lucidez.
Menino, és contramão de corte e reis.
Teus olhos miram fundo o nosso ser
e em vez de te pautares pelas leis
confirmas: “Só o amor tem o poder
de todos irmanar, vós não sabeis?”
Teus gestos: cada um, com densidade,
aponta-nos o novo amanhecer:
ninguém pisar ninguém, fraternidade;
ser próximo de todos, responder
a cada precisão com lealdade!
Menino, nos propões: “Que desperteis!”
Natal: lição de entrega e liberdade.
Menino, teu olhar não quer distância.
E nasces bem à beira do abandono,
bem lá, onde não chega a relevância...
Pastores do suor têm outro sono,
depois de visitarem tua infância.
Se os grandes te teceram armadilha,
o olhar dos pequeninos foi de abono
de quem viu no bem pouco a maravilha
da solidariedade, não de um trono.
Quem vem assim pequeno não humilha!
Menino, no teu pouco que abundância!
Natal: lição profunda de partilha.
Menino, tu nos chegas desarmado,
em meio à insegurança que vigora.
Fizeste a tua escolha: o melhor lado?
Te vejo tão sem nada neste agora!...
Mas és de surpreender, com teu recado.
Quem sofre, quem chorou... Não vens omisso:
teu jeito muito mais que colabora,
te inseres lá na dor, és compromisso
de erguer – eis que a esperança comemora! –,
de ser Irmão de luz, de trazer viço!
Menino, tu nos vens com tanto agrado!
Natal: lição de empenho e de serviço.
Menino, você sabe nos trazer
razões de iluminar-nos o caminho:
a paz não é motivo de lazer,
é fibra que supera dor e espinho
em nome da alegria de viver!
Irmãos! O compromisso mais sereno
que nutre a nossa taça – que bom vinho!
Irmãos e irmãs é o modo denso e pleno
de virmos abordar cada vizinho,
de sermos, neste chão, do céu o aceno!
Menino, temos muito que aprender!
Natal: lição primeira, ser pequeno!
Palavras tantas vezes repetidas
calaram cá no fundo do meu peito:
“não queiras desistir, pois há saídas”,
“mantém com cada um o bom respeito”,
“não vás abrir nos outros mais feridas”...