Você trabalha em que, ó meu irmão?
E traz para a família o bom sustento
vertendo o seu suor em qual porção
do mundo dos negócios, tão sedento
do lucro a qualquer preço, neste chão?
O Filho do Deus Vivo em manjedoura
não traz para você questionamento?
Você cultiva mesmo qual lavoura?
Seu fruto traz veneno, ou alimento
capaz de pôr a paz bem duradoura?
Natal é tempo bom pra reflexão...
Adubo? Arado? Poda? Pá? Vassoura?
J. Thomaz Filho
Você que se prepara com estudo
pra ter lugar ao sol no nosso chão
entende esse preparo como escudo
ou como ferramenta em sua mão?
No mundo o sofrimento é tão agudo!...
Pois Deus chegou aqui por uma gruta!
Depois, em Nazaré, teve a lição
da fé, da convivência, da labuta,
de olhar pra dor da grande multidão,
servir, cuidar, jamais ser força bruta.
Natal é um compromisso que diz tudo:
Deus ama!... Seu amor jamais reluta!
J. Thomaz Filho
Se quero meu País com pão nas mesas,
você o quer seguro e sem problemas.
Então nós não queremos estranhezas,
queremos paz e bem, e não esquemas.
Pra que nossos ataques e defesas?
Não dá pra clarearmos nossas mentes
e vermos que é maior do que os dilemas
o espaço do canteiro pras sementes?
Olhando pro Natal – que nobres temas! –,
podemos dar as mãos, bem conscientes.
Natal: sabe propor dessas surpresas:
abraços, não trincheiras prepotentes!
J. Thomaz Filho
Poder olha pro povo, lá de cima,
mas Deus é solidário, se nivela.
Criar este universo e todo o clima,
criar a humanidade e ser um dela,
é isso que Deus faz! Não nos anima?
É isso que Deus pede a cada um!
Natal: vem abeirar nossa tigela,
comer da nossa mesa, sem jejum;
não fica nos olhando da janela,
se põe no nosso meio, é bem comum!
Nos vem pra socorrer, jamais vitima:
não quer deixar sem vez de nós nenhum.
J. Thomaz Filho
Há leis, há advogados, há juízes,
cadeias, ambulâncias, hospitais,
e tanta insegurança e seus matizes,
violência nas escolas e quintais...
Do que é que estamos sendo os aprendizes?
Humanos, nós estamos tão doentes!
Se há sempre bons recados nos natais,
por que não os mordemos com bons dentes,
pra irmo-nos fazendo não rivais,
não cegos, nem matreiros, prepotentes?
Queremos de verdade ser felizes?
Da paz, do bem sejamos as sementes
J. Thomaz Filho
O tempo traz tropeço, encruzilhada...
Estamos numa dessas. Decifrar
o rumo a ser tomado pela estrada
nos pede muita calma: ouvir, olhar,
cuidar da paz, do bem, do que os agrada.
A gruta de Belém é uma lição:
é numa manjedoura, não no altar,
que Deus vem preparar o mundo irmão!
José e Maria podem nos contar
de dor, de medo, fé, preocupação...
Natal é Deus conosco, na jornada,
servindo os pequeninos, sendo o Pão!
J. Thomaz Filho
Supremo Tribunal, o Federal,
requer os seus por cento: dezesseis.
Falar de porcentagem é legal...
O caso é como são as nossas leis...
Em mínimos, mais cinco, no total!
Salário... Sempre o mínimo pro pobre,
com mesa tão minguada, não de reis!
A tal da porcentagem tudo encobre...
Será que matemática sabeis?
É justo que o pequeno só soçobre?
A toga era pra ser tão parcial?
Juízes, que quereis? Mas isso é nobre?
J. Thomaz Filho
Que dias bem melhores possam vir!...
Os passos da esperança vão além
de apenas esse dito bom de ouvir.
Se têm ouvidos bons para o porém,
os braços têm mais firmes para o agir!
Os dias bem melhores florirão,
se escolhas se fizerem sem desdém,
se os olhos percorrerem todo o chão,
se o sonho compreender que lhe faz bem
ser seiva de bem mais que uma intenção!
Jamais vai a esperança desistir
do seu melhor cultivo: mundo irmão!
J. Thomaz Filho
Ternura, acolhimento, mansidão,
a paz se desdobrando em cada gesto,
firmeza recheada de perdão,
olhar que tudo inclui, que não vê resto,
e sempre tem lugar no coração.
Ah! Deus queria assim o Seu retrato:
constância que não vê tempo molesto,
vigor que faz o sonho virar ato,
serviço prestimoso, atento, honesto
– e então moldou você, com todo o trato!
Ó mãe, você é mesmo essa lição
de amor, partilha e luz!... A Deus sou grato.
J. Thomaz Filho
Ó mãe, são sempre filhos, dos dois lados:
da mão que atira impune e de quem cai.
Que vale uma estatística com dados,
se o nosso coração assim se esvai,
marcando nossos olhos desolados?
A nossa sociedade mentirosa,
com toda a propaganda que nos trai,
ensina que o desfrute é bela rosa,
mas nutre tanto espinho e nos distrai
negando a chance a tantos, criminosa.
Ó Mãe, temos de ouvir os teus recados:
“São filhos, cuidar bem!...” O resto é prosa.
J. Thomaz Filho