PASTORAL FÉ E POLÍTICA

Arquidiocese de São Paulo

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J. Thomaz Filho

ELAS VÃO EM FRENTE

Ficaram confinados. Um fracasso?
O medo, as incertezas... Que fazer.
Alguém há de se erguer e dar um passo...
E então são as mulheres. Queres ver?
Levantam-se, conferem todo o espaço.

Pesada aquela pedra... Vão em frente.
A força lá de dentro, sem temer,
as leva pro jardim, coração crente,
sabendo exatamente o que fazer:
cuidar!... Um corpo morto?... Corpo ausente!!!

Faltava, no desenho, mais um traço:
e assumem a notícia surpreendente!

J. Thomaz Filho

CLARÍSSIMA LIÇÃO

Claríssima a lição dessas mulheres:
unidas, bem atentas ao cuidado,
não ficam simplesmente nos talheres,
preparam, para o corpo sepultado,
aromas... Ó meu Deus, o que mais queres?

E Deus queria mais... Há de mostrar.
Um sábado de dor. Não derrotado.
Pois elas têm por dentro, a lhes gritar,
um sonho, uma esperança um bom recado
que querem descobrir... Acreditar!

Ó Mestre, não é o fim! Que te superes!...
Silêncio! Deus é mais! Não vai faltar!...

J. Thomaz Filho

A VIDA EU ESCOLHI

Por que vocês insistem nesse olhar?
Quem disse que escolhi morte cruel?
A vida eu escolhi, eu vim cuidar!
Tortura é insensatez, não é papel
de humano contra humano!... Sem lugar!

Eu fui fiel ao Pai! Olhem pra mim!
Não veem que eu acendi a luz do céu?
Não veem que vim limpar esse jardim?
Não veem que esvaziei esse tonel
do peso sobre o irmão?... Por paz eu vim!

A cruz!... Ela queria me calar!
A cruz me disse não. Eu disse: Sim!

J. Thomaz Filho

Da maior importância

É preciso que lavemos os pés
uns dos outros, sem orgulho, arrogância.
Eu sou frágil, assim como tu és.
O cuidado é da maior importância:
mundo irmão! Não haja réus e nem rés!

Simples vírus pode dar-nos lição:
de que valem ambição e ganância
quando estamos sem saída, sem chão?
Pois lavemo-nos os pés!... Que fragrância
nós podemos descobrir, bem à mão!

Se o poder apronta cruz e revés,
nosso Mestre é luz, vigor e perdão!

J. Thomaz Filho

APÓS A QUARENTENA

Após as restrições da quarentena,
que os braços não se cruzem, de felizes!
Se a nossa gratidão fizer novena,
que seja pra firmar novas raízes,
com lida consistente, densa, plena.

Sem isto, foi inútil a lição...
O vírus nos quis pôr como aprendizes
de um novo conviver, de pés no chão,
bem justo, solidário em meio às crises,
sem essa Economia da Opressão!

Se os tais do capital querem a cena,
a paz nos pede humano mutirão!

J. Thomaz Filho

DENSA LIDA

Os que sobrevivermos ao cuidado
teremos densa lida pela frente:
mexermos no perfil globalizado
do nosso social tão inclemente,
de modo a remoldá-lo humanizado!

Que pese a nossa força coletiva!
A mão do capital já se ressente
e grita pra nos ter na comitiva...
Um novo ordenamento é mais que urgente,
com foco, com voz firme e decisiva!

Que a vida seja o centro, que o mercado
não sugue, apenas sirva a gente viva!

J. Thomaz Filho

QUARENTENA GERAL

Adilza, veja só quanta ironia:
não dá para abraçá-la, por enquanto...
O abraço!... Bela prova de harmonia!...
Agora, proibido em todo canto:
um vírus decretou essa agonia.

E pôs em quarentena todo o mundo.
Há lares visitados pelo pranto,
há sérias restrições... Cada segundo
nos pede mais cuidado do que espanto,
exige-nos olhar bem mais profundo.

Ah!... Sermos solidários é a ousadia!
Um grito que nos vem de lá do fundo!

J. Thomaz Filho

O MUNDO EM QUARENTENA

As vozes que alertavam tano e tanto,
e os fatos que clamavam, numerosos...
O lixo em rios e mar, calor de espanto,
o ar mudado em gases venenosos,
geleiras desnudando-se, sem manto...

E agora, um ser minúsculo, atrevido,
visando das crianças aos idosos,
mais ágil que o descaso empedernido,
nem liga pra chacota dos garbosos,
e diz que vem por tempo indefinido...

O mundo em quarentena, cisma, pranto...
Cuidemos uns dos outros!... É o sentido!

J. Thomaz Filho

O MUNDO EM GREVE

Um vírus põe o mundo inteiro em greve.
E tudo, sem piquete, vai parando...
A deusa Economia a que se atreve?
Sutil, nessa trincheira do "até quando?",
prepara um novo bote para breve?

A caixa de alfinetes tendo à mão,
espeta o mapa-múndi, maquinando
por onde irá sugar, e sem perdão,
as somas que perdeu seu cego bando,
que a todos faz reféns da espoliação?

A vida, no silêncio, sério escreve...
Quem é que aprende a ler essa lição?

J. Thomaz Filho

Um alô pra São José

Adilza, dê um alô pra São José.
Eu sei, vocês não usam calendário,
mas eu, aqui no chão, prossigo a pé,
medindo as estações com dia, horário
e clima, que requerem luz e fé.

E diga-lhe: lembrá-lo me faz bem.
Porque não tiro os pés do itinerário,
olhando sua Maria e seu neném,
que cresce e é nosso Mestre necessário,
que vem, e se faz Pão e enxerga além!

E espere aí por mim, pois sei que é,
também o tempo, bênção que nos vem!

J. Thomaz Filho

J. Thomaz Filho

J. Thomaz Filho
J. Thomaz Filho é escritor, poeta, compositor e também letrista, parceiro de Frei Fabreti em dezenas de músicas litúrgicas, entre elas "Imaculada", "O Amor de Deus", "Grande é o Senhor", "Cantando a Beleza da Vida", "Venham Comigo" e "Vejam". Atuou por mais de dez anos no Colégio Santa Catarina (Petrópolis/RJ) lecionando ética. Trabalha junto a grupos de reflexão bíblica e formação cristã. Foi agraciado com o prêmio "Poesia e Liberdade" pelo Centro Alceu Amoroso Lima (2010). Para falar com J. Thomaz Filho, utilize nosso formulário de contato.