A dor não tem nenhuma sensatez.
Por que não poupa as mães? São do cuidado!
Não dá para contar de um a três,
pensar e ponderar, ser de bom grado?
A dor não faz assim, nenhuma vez.
As mães têm o seu pacto com a vida,
são sempre de ficar ali, ao lado,
com mãos de mil tarefas, fronte erguida,
sem prazo, prestativas – são recado
do céu pra todos nós, alguém duvida?
Meu Deus, o que eu não vejo eu sei que vês!
Oh! Dá-lhes teu vigor, tu és guarida!
J. Thomaz Filho
É claro que ela é tua, meu Senhor.
Foi sempre, para mim, sinal bem claro
do teu olhar atento e teu calor,
do teu amor fiel, e luz, e amparo,
da paz que um tempo novo quer compor.
É claro que ela é tua, plenamente.
Me livra do olhar míope, torto, avaro,
me ensina a erguer a fronte e andar em frente,
firmando esse convívio que te é caro,
plantando aqui no chão o eternamente.
É claro que ela é tua! Que valor!
Teu dom na minha vida, ela é um presente!
J. Thomaz Filho
Sonhei com esse belo aplicativo.
Ao ler o seu contrato de licença
pesei o positivo e o negativo:
não era pra assinar minha sentença,
passei os itens todos pelo crivo.
E não pestanejei nem por momento,
fiquei com o pacote, pois compensa:
mexendo com a vida e o sentimento,
me fala de saúde e de doença,
do amor que, alegre ou triste, é o alimento.
Clicar ali no sim foi decisivo:
com ela cultivar meu casamento!...
J. Thomaz Filho
Creio em Deus Filho, sim, ressuscitado,
que, sem reservas, do Pai foi vontade,
que dos pequenos manteve-se ao lado,
que as consciências chamou à verdade,
que dos poderes não foi aliado.
Dom e serviço, jamais sacrifício,
Ele exigiu dos que, com liberdade,
querem segui-lo no mesmo exercício.
Tomar a cruz com total dignidade
não é curvar-se, é firmar-se sem vício.
Pelos poderes se viu condenado:
por assumir pleno amor como ofício!
J. Thomaz Filho
Creio em Deus Filho de morte tramada
em consequência da vida que leva:
quer desatar toda mão algemada,
quer passo livre do peso que entreva,
quer corações com a paz cultivada.
Da Tradição só visita o que é nobre.
Bem mais que Adão e bem mais do que Eva,
faz da partilha o socorro do pobre,
jamais condena, é perdão, luz que eleva
olhos pro céu – que ninguém mais soçobre!...
Pensam que a morte o transforma num nada?
Vive pra sempre: eis que a fé se descobre!
J. Thomaz Filho
Creio em Deus Filho de plena memória:
sempre espalhando as raízes da paz,
vem, interfere nos rumos da história
com gesto novo, serviço capaz
de reerguer o empurrado pra escória.
Creio em Deus Filho de plena firmeza,
de passos novos, de olhar sempre audaz:
à consciência propõe a clareza,
a liberdade convoca ao veraz,
pra que a justiça vigore coesa.
Lavando os pés – chama isso de glória! –,
é refeição a nutrir nossa mesa!
J. Thomaz Filho
Creio em Deus Filho vivendo entre nós,
um com o Pai e o Espírito Santo.
Nada de Reino deixado pro após:
“Há de cobrir deste chão todo canto!
Ide, levai às nações minha voz!
Multiplicai sem temor os meus gestos:
aos empurrados ao vil desencanto,
fazei-os ver: não são sobras nem restos.
Dai-lhes de volta a esperança, portanto.
Deles é o Reino, notai, sede honestos!”
Ah! se opuseram com trama feroz...
Mas foi fiel, não cedeu aos molestos.
J. Thomaz Filho
Os tiros que calaram Mariele
ressoam nos ouvidos do País.
Vêm dor e indignação à flor da pele,
perplexas, pois o fato contradiz
o sonho – paz e bem! – que nos impele.
A nossa vereadora lá do Rio
foi voz a denunciar os gesto vis
do crime, e da polícia que faliu;
queria respeitados os civis
e todo cidadão deste Brasil.
Mariele está presente e nos compele:
manter a mesma voz e o mesmo brio!
J. Thomaz Filho
Depois de desarmar o preconceito,
tomando o espaço inteiro como nosso
– dizer que ele é só meu é desrespeito! –,
entendo que tu podes quanto posso.
Assim, nós dois crescemos no direito!
Verdade! Não perdi, como pensara!
Tu vens com teu vigor e me remoço,
tu vens com teu lidar que tudo ampara
e assim trazes surpresas que eu endosso.
Tu vens com teu olhar que tudo aclara!
Desbanca a prepotência que em meu peito
ainda tem resquícios, vil e avara.
J. Thomaz Filho
O tempo, ano a ano, nos ensina:
quem diz “cheguei ao fim” está no início!
No fim da gestação a mão divina
garante-nos a luz, tempo propício
pra virmos enxergar mais que neblina!
E vêm as estações, nos maturando.
De quatro em quatro delas – nosso ofício
é tudo cultivar! – vamos cantando
singelos parabéns, que são o indício
de estarmos preparados pra ir somando.
Até que assim nos chegue a última esquina:
e então é o grande abraço, o eterno quando!