É claro que esse Filho nos intima,
não veio pra deixar tal qual estava,
e mostra como o Pai nos tem estima:
então o querer d’Ele vem e cava
em nós um alicerce pra outro clima.
É claro que esse Filho é sal da terra.
Do medo e do receio nos destrava,
põe óleo na engrenagem que ainda emperra,
não quer a nossa mente assim, escrava
de sonhos que descambam para a guerra.
Natal!... O Deus da Paz, que tudo anima,
nos quer em mundo irmão: Ele não erra!
J. Thomaz Filho
É claro que esse Filho nos convoca.
Da sua manjedoura se levanta,
e um gosto de mudança em nós provoca:
ninguém mais no abandono! Vem e implanta
no chão um novo olhar: que o céu evoca.
É claro que esse Filho é bom fermento.
Percebe o contrassenso: a dor é tanta!
Mas não entrega a vela a qualquer vento,
nem deixa a voz grudada na garganta,
espalha consciência, luz e alento.
Natal!... Mercadoria para troca?
É claro que Deus tem bem outro intento!
J. Thomaz Filho
É claro que esse Filho nos abraça
e faz do seu perdão uma constante,
assume o compromisso e não repassa,
e vem aliviar cada semblante
marcado pela dor, pela ameaça.
É claro que esse Filho é luz do mundo,
é fonte que refaz o caminhante,
ternura que nos mexe lá no fundo,
nutrindo em nós um gosto semelhante:
no trato e no cuidado, dom fecundo!
Natal!... O melhor vinho em nossa taça:
aquece-nos de vez, no mais profundo!
J. Thomaz Filho
É claro que esse Filho nos acolhe,
traçando desde o início seu roteiro:
”Estar com os pequenos não me tolhe.
Eu opto por servir e assim me abeiro
da dor que, neste chão, não se recolhe”.
É claro que Ele é Filho do Deus Santo,
é livre, é lucidez, jamais matreiro,
não é de espalhar medo em nenhum canto,
não é de rejeitar nenhum canteiro,
nem é de se isolar num entretanto.
Natal!... O Amor de Deus, que nos escolhe,
é alento que refaz, que enxuga o pranto!
J. Thomaz Filho
É claro que esse Filho de Maria
vai ser o nosso Irmão a cada instante,
vai ser o companheiro todo o dia,
vai ser o ouvido atento, não distante,
vai ser a mão de Deus nessa ousadia.
É claro que Ele é Filho de Deus Pai
e mostra um rosto terno e cativante,
pra quem está de pé ou pra quem cai,
e põe a dor no estado de minguante.
Seu braço é de vigor, não se retrai.
Natal!... O tempo novo se anuncia!...
Deus mesmo está aqui, não se distrai!
J. Thomaz Filho
É claro que esse Filho que nos veio
vai ser o nosso Pão o tempo inteiro.
Não foi de lamentar, de ter receio,
mas foi de se doar neste canteiro
da vida, sendo irmão, não sendo alheio.
É claro que Ele é Filho do Divino.
Não vem pra repetir o rotineiro.
Começa por mostrar-se pequenino,
sem nunca se perder do paradeiro
que o Pai traçou, mas não como destino.
Natal!... Sim, Deus se põe no nosso meio,
bem próximo de cada peregrino!
J. Thomaz Filho
Como é que a consciência não tem cor,
se a dor do preconceito a vem ferir?
Pois ponha-te na pele, por favor:
pergunta se consegues prosseguir
sugado por olhar tão opressor.
Sem negra consciência essa opressão
só sabe machucar e destruir,
com nada a oferecer pro mundo irmão.
Queremos novo chão, novo porvir,
e espírito bem novo, e coração!...
Enquanto a prepotência não se for,
a minha consciência grita: “Não!...”
J. Thomaz Filho
Pelo Dia Mundial dos Pobres, indicado pelo Papa Francisco.
Disseram que agro é tudo. Agro é tudo?
Por isso é que ele tóxico, também!
Disseram que o petróleo é bom escudo,
disseram que ele é nosso. Mas de quem?
Disseram tanta coisa!... Fico mudo?
Pois olho para as mesas: como estão?
Pois olho pro salário que não vem...
Não é por escassez! A produção
só fez multiplicar-se!... É? Porém,
só serve pra alguns poucos... Mundo irmão?!
Progresso assim carrasco é crime agudo,
pior que a pandemia, em nosso chão!
J. Thomaz Filho
Pois eles estão lá, bem no Planalto,
clamando pela vida, dom de Deus,
num grande mutirão, clamando alto,
clamando num alerta contra os breus
que vão tolhendo a vida, assim, de assalto.
Pois eles estão lá, em mutirão,
clamando por sua vida e sonhos seus,
clamando pelos rios e pelo chão,
clamando justamente, cireneus
da paz, que só pretende um mundo irmão!
Pois eles estão lá!... Não ser incauto,
indígenas, é eu lhes dar razão!
J. Thomaz Filho
Se Pátria for sinônimo de medo,
de trama, de suborno ou de ódio,
então me distancio desse enredo
nem mesmo que ofereçam algum pódio.
Não cedo pra gatilho nenhum dedo!
Nem mesmo em dose parca esse veneno,
qual fosse de cloreto, esse de sódio,
se afina com meu sonho. Meu terreno
só vai testemunhar-me em episódio
que peça ao meu suor um dia pleno.
A luz, a paz e o bem têm um segredo
chamado mundo irmão: me concateno!
J. Thomaz Filho