Depois das eleições tão apertadas,
pudemos enxergar, estarrecidos,
que os contos do País não são de fadas.
Com nossos ianomâmis, combalidos,
em curso, um genocídio, nas caladas...
A Bolsa de Valores, impassível,
não teve oscilações, mortos, feridos:
pra ela, tudo estável, bem no nível;
falências não ergueram seus grunhidos
por conta do cruel, frio e terrível...
E nada interrompeu nossas estradas...
Que povo somos nós?... Paz ilegível.
J. Thomaz Filho
Nasceu aquele pai que é sempre abraço,
mas deixa o filho ir, por respeitar
a sua liberdade e até o fracasso,
mas fica na varanda pra aguardar,
na curva do caminho, um novo passo.
E então ele faz festa sem igual!...
Mas dela nem desfruta ao ver chegar
o outro filho seu que em tom rival
renega o mundo irmão ao censurar
aquele que entendeu o que é fatal.
Que o nosso coração não seja escasso.
Podemos alegrar-nos? É Natal!
J. Thomaz Filho
Nasceu Filho do Homem, deste lado,
sabendo de penúria, de desdém.
Mas teve o seu direito respeitado:
de um lar que o acolhesse muito bem.
Firmar o mundo irmão é seu recado.
Amor!... O quer concreto, bem real:
com fome, sede e frio não quer ninguém;
não ter preso ou doente por rival,
cuidar de visitá-los, sim, também.
Pra vida e qualquer dor, ser luz e aval!
Não quer ninguém ao léu, nem condenado.
Podemos alegrar-nos?... É Natal!
J. Thomaz Filho
Nasceu Filho do Homem, deste lado,
sabendo de penúria, de desdém.
Mas teve o seu direito respeitado:
de um lar que o acolhesse muito bem.
Firmar o mundo irmão é seu recado.
Amor!... O quer concreto, bem real:
com fome, sede e frio não quer ninguém;
não ter preso ou doente por rival,
cuidar de visitá-los, sim, também.
Pra vida e qualquer dor, ser luz e aval!
Não quer ninguém ao léu, nem condenado.
Podemos alegrar-nos?... É Natal!
J. Thomaz Filho
Nasceu o bom senhor dos mil talentos.
Confia em cada servo: ser fecundo!
Que enxerguem a si mesmos, bem isentos,
e atentos. Cada qual faça segundo
aquele que é o melhor dos seus alentos.
Partilha, nesta vida, é o principal.
É assim que o mundo irmão vai, neste mundo,
firmando suas raízes, no quintal.
Que cada um procure, lá no fundo
de si, o que Deus sonha ver real.
De paz e bem que rendam nossos centos!
Podemos alegrar-nos? É Natal!
J. Thomaz Filho
Nasceu o bom senhor dos mil talentos.
Confia em cada servo: ser fecundo!
Que enxerguem a si mesmos, bem isentos,
e atentos. Cada qual faça segundo
aquele que é o melhor dos seus alentos.
Partilha, nesta vida, é o principal.
É assim que o mundo irmão vai, neste mundo,
firmando suas raízes, no quintal.
Que cada um procure, lá no fundo
de si, o que Deus sonha ver real.
De paz e bem que rendam nossos centos!
Podemos alegrar-nos? É Natal!
J. Thomaz Filho
Nasceu nosso porteiro prestativo,
que quer nos alertar sobre o perigo.
A festa que prepara é um lenitivo:
lugar tem para todos, bom abrigo!
Mas tudo nesta vida tem seu crivo...
O bem supõe suor, empenho e tal.
A paz do mundo irmão é um grão de trigo,
que dá sua própria vida, que é leal.
É claro que não quer nenhum castigo,
mas ser acomodado é desleal...
Às cinco desleixadas, decisivo:
“Podemos alegrar-nos? É Natal!”
J. Thomaz Filho
Nasceu o bom pastor, das cem ovelhas,
que vai fazer pergunta bem ousada,
que vai trazer do céu claras centelhas.
Justiça é preferir a desgarrada!
Ouvi-lo vai doer-nos as orelhas...
É assim esse pastor, sempre leal,
pois tem o mundo irmão como jornada.
À vida, ao bom serviço dá o aval,
enxerga mais que a lei, sempre algemada,
derruba os muros todos do quintal.
E tu, será que a ele te assemelhas?
Podemos alegrar-nos? É Natal!
J. Thomaz Filho
Nasceu o tal patrão bem surpreendente,
que sai a contratar em todo horário,
pois quer na sua vinha toda a gente,
pois prima na partilha do salário
e ensina que justiça é ser clemente.
É claro, o mundo irmão é seu fanal,
aponta-lhe bem claro o itinerário.
Não cai no que chamamos de normal:
o mérito, o suor bem mercenário,
as tramas do mercado, o tom legal...
Se o céu lhe dita o rumo, é coerente.
Podemos alegrar-nos: é Natal!
J. Thomaz Filho
Nasceu o cuidador da plantação,
que tem semente boa para a terra.
Mas quando a desavença de outra mão
também semeia o joio, em pé de guerra,
não custa ponderar a situação.
Em vez de raiva tanta por rival,
seu gosto é pela vida, não emperra.
O olhar do mundo irmão, jamais banal,
não queima, não arranca, não enterra...
“O joio há de ser trigo!” – que ideal!
Se somos esse empenho, há razão:
podemos alegrar-nos! É Natal!
J. Thomaz Filho