Como é que a consciência não tem cor,
se a dor do preconceito a vem ferir?
Pois ponha-te na pele, por favor:
pergunta se consegues prosseguir
sugado por olhar tão opressor.
Sem negra consciência essa opressão
só sabe machucar e destruir,
com nada a oferecer pro mundo irmão.
Queremos novo chão, novo porvir,
e espírito bem novo, e coração!...
Enquanto a prepotência não se for,
a minha consciência grita: “Não!...”
J. Thomaz Filho
Pelo Dia Mundial dos Pobres, indicado pelo Papa Francisco.
Disseram que agro é tudo. Agro é tudo?
Por isso é que ele tóxico, também!
Disseram que o petróleo é bom escudo,
disseram que ele é nosso. Mas de quem?
Disseram tanta coisa!... Fico mudo?
Pois olho para as mesas: como estão?
Pois olho pro salário que não vem...
Não é por escassez! A produção
só fez multiplicar-se!... É? Porém,
só serve pra alguns poucos... Mundo irmão?!
Progresso assim carrasco é crime agudo,
pior que a pandemia, em nosso chão!
J. Thomaz Filho
Pois eles estão lá, bem no Planalto,
clamando pela vida, dom de Deus,
num grande mutirão, clamando alto,
clamando num alerta contra os breus
que vão tolhendo a vida, assim, de assalto.
Pois eles estão lá, em mutirão,
clamando por sua vida e sonhos seus,
clamando pelos rios e pelo chão,
clamando justamente, cireneus
da paz, que só pretende um mundo irmão!
Pois eles estão lá!... Não ser incauto,
indígenas, é eu lhes dar razão!
J. Thomaz Filho
Se Pátria for sinônimo de medo,
de trama, de suborno ou de ódio,
então me distancio desse enredo
nem mesmo que ofereçam algum pódio.
Não cedo pra gatilho nenhum dedo!
Nem mesmo em dose parca esse veneno,
qual fosse de cloreto, esse de sódio,
se afina com meu sonho. Meu terreno
só vai testemunhar-me em episódio
que peça ao meu suor um dia pleno.
A luz, a paz e o bem têm um segredo
chamado mundo irmão: me concateno!
J. Thomaz Filho
Você não é figura passageira.
Já foi o meu herói. Hoje é bem mais.
Você tem a dizer pra vida inteira:
tem voz em calmaria e vendavais,
me anima a não ficar ali, à beira.
A vida tem percalços, como não?
Você não me soprou sonhos banais,
me fez pisar bem firme neste chão,
tirando-me da lista dos rivais,
propondo-me o sabor do mundo irmão.
A hora? Não temer a derradeira,
pois ela não é mais do que um portão.
J. Thomaz Filho
Não vou desperdiçar esse verbete:
amigo é coisa séria, nobre, densa.
No escuro, muito mais que farolete:
clarão, olhar de paz, firme presença.
E sempre da esperança um bom lembrete.
Não é de hora marcada, só de agenda,
tem tempo para as mesas da pertença:
palavra, pão, silêncio... Na contenda,
franqueza e lucidez, não desavença;
madura avaliação, não reprimenda.
Amigo é livro aberto, não bilhete,
é terna gratuidade, jamais venda.
J. Thomaz Filho
Como é que eu poderia estar aqui,
não fossem nove meses com você?!
Você cuidou de mim, não só de si,
seu corpo me deu vida, quem não vê?!
Presente que Deus deu, eu compreendi.
É bom eu abraçar seu coração.
Não sei o que o futuro me prevê,
mas sei que posso tê-lo em minha mão.
Não é para cobri-lo com glacê,
você me faz pensar noutra razão.
A vida é dom de Deus. Eu entendi.
Um dom pra que outras vidas tenham chão!
J. Thomaz Filho
Matar umas dezenas é que é o fruto
do bem, da paz, da luz, da inteligência?
Ganhar um bom preparo é pôr em luto
irmãos e pais e filhos, sem clemência?
Será que é mais seguro o mundo bruto?
As mães já não merecem mais respeito?
Pensando em harmonia e convivência,
será que elas concordam com tal feito?
Será que elas aprovam delinquência?
E a morte programada desse jeito?
Será do mundo irmão esse produto?
Se não, é de qual mundo tal efeito?
J. Thomaz Filho
Enquanto remoemos tantas dores,
mulheres vão pra lá, pra ver de perto!
E trazem uns palpites promissores
pro nosso coração todo deserto,
pros nossos olhos tristes, desertores...
Não vamos, desta vez, levar em conta?
Por que não lhes dar crédito? Por certo
a fala que propõem não desaponta,
é exato o que queremos!... Peito aberto!...
O que elas vêm dizer não amedronta!...
É sim! Ressurreição! Por que temores?
O Mestre é bem maior que toda a afronta!
J. Thomaz Filho
Sabia da fraqueza de um por um,
mas não se rebelou contra ninguém.
Sabia da injustiça, tão comum...
Sofreu. Mas, na resposta, sempre o bem!
Foi firme. Com revide?... Não, nenhum!
Fiel a dois propósitos, de fato.
Primeiro: “Quem entende o que convém
é o Pai, então que eu seja o seu retrato”.
Segundo: “Para o mal nenhum porém”,
chamando à consciência em cada ato.
E foi levado à cruz – sem crime algum!...
À paz, ao bem, à luz só desacato?
J. Thomaz Filho