No Evangelho de hoje, Mt 9,18-26, Jesus faz duas curas: da filha do chefe da sinagoga que havia morrido e da mulher que sofria de hemorragia. Curioso como atualmente nos prendemos aos milagres de Jesus e dependemos deles para manter nossa fé. Penso na agonia de Jesus quando olhou para a multidão e disse que eles precisavam de um pastor, porque a messe é grande mas os operários são poucos.
Ainda hoje, quantas pessoas não trocam de religião simplesmente porque a Igreja Católica não oferece esse show de milagres. E que milagres são esses prometidos por igrejas que aparecem do nada? Emprego para o marido desempregado, cura da saúde para um filho, libertação do demônio de uma dona de casa? Vocês conseguem perceber, queridos e queridas ouvintes? Esses milagres não deveriam ser oferecidos pelas igrejas, mas pelo governo: Emprego, saúde, dignidade.
E a proposta de Jesus Cristo era justamente de libertar as pessoas do domínio da religião, fazendo com que elas pensassem que tudo era vontade de Deus. Jesus Cristo queria sim, e ainda quer, que nos libertemos de toda a opressão e que sejamos capazes de pensar, de reagir, de criar. Lembram-se de João, capítulo 10, versículo 10: "Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância". Vou repetir esse versículo várias vezes, pois acredito que tudo o que Jesus fez e falou foi para que tivéssemos uma vida plena, para isso Deus nos criou.
Logo, uma vida plena não pode ser baseada em milagres. É claro que milagres acontecem, mas vejamos o exemplo da Igreja Católica que no processo de canonização de uma pessoa investiga todas as possibilidades para comprovar de que tal acontecimento não pode ser explicado pelas ciências. Tive a oportunidade de conhecer o médico anestesista da moça que recebeu o segundo milagre de Frei Galvão. Ele contou que as freiras do mosteiro da Luz procuraram os médicos, que cuidaram dela durante a gestação e o parto, para que eles fizessem um laudo comprovando a impossibilidade dela ter tido o bebê. Mas, devemos ter uma fé adulta, como dizia o Pe. Valeriano. Não podemos nos deter nesses milagres. Vejamos o exemplo de tantas donas de casa que multiplicam o pão a cada dia, fazendo com que o salário mínimo recebido seja suficiente para sustentar seus filhos.
Vejamos tantas casas de apoio que acolhem crianças doentes, órfãs, se doando de corpo e alma pela saúde e pela vida dessas crianças. Vejamos o exemplo de ONGs, de grupos de apoio que tiram crianças da rua oferecendo-lhes esportes ou ajudando-os a se libertarem dos vícios das drogas e do álcool. Essas atitudes queridos e queridas ouvintes são sim, verdadeiros milagres que comprovam que Cristo ressuscitou e vive no meio de nós.
FONTE: O artigo de Marília Amaral nos foi enviado diretamente pela autora, tendo sido primeiramente veiculado pela Rádio 9 de Julho no dia 04 de julho de 2011. Sua reprodução é autorizada pela Rádio 9 de Julho.