Paz! Apesar de eu me achar impotente para tanto, de fato esta é a tarefa: mudar, transformar o mundo, fazer vigorar a paz! Bem-aventurados os que constroem a paz, os que se colocam a serviço da paz, os que a concretizam. Serão identificados como filhos de Deus (Mt 5,9).
O que desautoriza a paz? Violência, inveja, indiferença, preconceito, traição, ódio, agressão, opressão, achar-me dono absoluto da verdade em termos políticos (Jo 11,45-50; 19,8-12), sociais (Lc 12,13-14), religiosos (Jo 18,19-23; 19,4-7), econômicos (Lc 12,15-21), ou comportamentais (Jo 8,1-11; Mt 7,1-5; Lc 18,9-14). Porém, não me basta não atrapalhar meus semelhantes, tenho de tomar partido (Lc 19,2-10; Mt 10,37-39), tenho de interferir positivamente (Mt 5,13-16; 25,14-27; 13,33), pois o Reino de Deus, que já está agindo, conta comigo também. Entrar no Reino de Deus, fazer parte dele é colocar-me a seu serviço (Mt 3,1-12; 10,5-16; Lc 4,16-21; 9,61-62).
Só nos cairá bem o nome de filhos de Deus, se como o Filho de Deus agirmos. O que é para ele a paz? Como Jesus a vai concretizando? Claro que não se contenta com a paz do Império, privilégio para tão poucos. Sua proposta é o Novo Reino, aberto para todos, a começar pelos que sempre foram deixados de fora.
Mulheres e crianças, no seu tempo, eram como propriedade do pai de família, não eram valorizadas como pessoas. Mas o Mestre, com a indignação das autoridades e a estranheza de seus conterrâneos, a elas dava crédito e as acolhia (Mt 19,13-15; Mc 9,33-37; Lc 7,36-50; Jo 4,4-30). Os doentes, considerados possuídos por espíritos impuros (Mc 1,21-28; Lc 9,37-43a) ou tidos como castigados por Deus (Jo 9,1-9), eram curados. Passava por cima das leis da pureza, deixando-se tocar pelos considerados impuros (Mc 5,25-34; Lc 7,36-50), indo-lhes ao encontro (Mt 8,1-4; Mc 2,13-17; Lc 7,11-17) ou saindo-lhes em defesa (Mc 2,23-28; 7,1-23; Mt 12,9-13).
Construção da paz e passividade não andam juntas. Ele não veio trazer a tranquilidade mas o empenho, o enfrentamento, a luta (Mt 10,34-39). O Filho de Deus escolheu a paz, tomou partido: as instituições, sejam religiosas, econômicas, sociais, culturais, políticas, de segurança ou de qualquer outro teor estejam a serviço da vida e não a vida a serviço delas (Mt 12,1-8; Mc 2,27; Mt 6,24). Que tudo funcione como se governado pelo próprio Deus (Mt 6,31-34; 11,28-30).
O que o Mestre exigia das instituições eram também exigências para seu próprio coração, seu próprio agir: a defesa dos fracos, abandonados, indefesos (Jo 5,1-18; 8,1-11; Mc 10,2-9; Lc 21,1-4; Mt 19,13-15; Lc 13,1-5).
Quanto que se investe em guerras que só produzem morte, destruição, desespero, revolta! Se armas e munições fossem transformadas em arados e orientações técnicas, já não haveria fome na Terra! Este mundo desvairado tem de mudar. E para mudar não bastam falas bonitas nem apenas bons propósitos (Mt 7,21-27; 25,1-12; 25,31-46).
A paz! A paz que todos queremos é dom do Pai para todos os seus filhos. E, como todo dom de Deus, não se realiza mágica ou automaticamente, conta com o empenho dos seus filhos: felizes os que lutam pela paz com as armas da paz, pois por suas mãos agem as mãos do próprio Deus!
FONTE: O Artigo de J. Thomaz Filho nos foi enviado diretamente pelo autor.