PASTORAL FÉ E POLÍTICA

Arquidiocese de São Paulo

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Ele Conta com os Mansos

A história tem mostrado que a posse da terra tem sido sempre conflituosa: alguém expulsa alguém e ali se põe como dono. O próprio povo escolhido viveu essa luta e a interpretou como bênção de Deus. A conquista da terra prometida, onde era pra correr leite e mel, durou apenas parte de sua história. O povo teve até reis para defenderem sua conquista, mas a história também lhe foi implacável: reis mais fortes invadiram, tomaram conta, exilaram o povo, destruíram até o templo. A fidelidade no exílio não foi de todos e o resto que voltou reorganizou-se, mas já não conseguiu mais o tão sonhado antigo esplendor.

Jesus conhecia muito bem essa história. As expectativas de um messias restaurador não lhe eram estranhas. Mas Jesus não era superficial na leitura dos profetas, percebia, também muito bem, por onde passa a vontade do Pai (Lc 4,16-21).

É evidente que Jesus frustrou os belicosos, os saudosistas, os mercenários, os purpurados. É evidente que rejeitou os sacrifícios (Is 1,10-17; Jr 6,20; Os 6,1-6; Mc 12,28-34). Jesus radicalizou a ousadia de Abraão (Gn 22,1-13), que se recusou a oferecer uma vida humana em holocausto. Jesus afrontou o descalabro da saúde pública do seu tempo escolhendo para sinais da chegada do novo Reino e de sua própria autoridade, sobretudo as vidas humanas abandonadas (Mt 8,1-4; 8,28-32; 9,1-8; Mc 5,25-34; 7,31-37). Em nome da vida enfrentou a própria lei (Jo 8,1-11).

jesus-04Um messias diferente, a serviço da vida! Um messias surpreendente. Sem armas (Lc 22,47-51; Mt 26,47-53), sem subterfúgios (Jo 10,32-39), manso (Mt 11,28-30). Mas de uma mansidão ativa (Mc 11,27-33; 12,13-17; 12,18-27; Lc 19,1-10; Jo 8,1-11), de uma mansidão que respeita o tempo do outro e lhe provoca o encontro com o mais profundo de si mesmo (Jo 4,1-26.39-42), de uma mansidão que vence os próprios preconceitos e se abre para a nobreza do outro (Mc 7,24-30).

Jesus é manso, conta com os mansos, nos desafia a ser mansos: a felicidade vai vigorar, o reino vai se implantando na medida em que os mansos possuírem a terra!

Não se trata da posse do mercado ou da ganância, mas de uma posse sem dominação e sem cartório. Posse apenas como domínio, como o modo de ser do Senhor, à sua semelhança. É o modo de posse de quem se sabe pobre, e não de quem se acha o dono. Não se trata, pois, da posse dos ricos, dos que se enriquecem com a terra como se a eles, e só a eles, pertencesse, porque têm armas para se defenderem e leis para se protegerem. É o modo de posse que dá dignidade a terra, porque o tratamento que aqui implanta é como se fosse o do céu. Nesse tipo de posse a organização da terra toma os conselhos do céu e procura resolver os problemas, os conflitos e as contradições – que sempre hão de existir, porque se trata de convivência humana! –, resolvê-los de modo a refletir o sonho do céu, de felicidade plena para todos, sonho que é o grande desafio posto para nós, e que dá sentido à nossa liberdade. Quem se deixa seduzir por essa perspectiva respira sabedoria com os ares da felicidade.

Os mansos não se gastam com tantos bens a proteger, não juntam pra si (Lc 12,16-21), têm consciência do provisório do nosso tempo (Mt 6,19-21), alargam a mesa da partilha. Bendita a terra em suas mãos!

 

FONTE: O Artigo de J. Thomaz Filho nos foi enviado diretamente pelo autor.

 

J. Thomaz Filho

J. Thomaz Filho
J. Thomaz Filho é escritor, poeta, compositor e também letrista, parceiro de Frei Fabreti em dezenas de músicas litúrgicas, entre elas "Imaculada", "O Amor de Deus", "Grande é o Senhor", "Cantando a Beleza da Vida", "Venham Comigo" e "Vejam". Atuou por mais de dez anos no Colégio Santa Catarina (Petrópolis/RJ) lecionando ética. Trabalha junto a grupos de reflexão bíblica e formação cristã. Foi agraciado com o prêmio "Poesia e Liberdade" pelo Centro Alceu Amoroso Lima (2010). Para falar com J. Thomaz Filho, utilize nosso formulário de contato.