Dedico uma saudação especial aos mais jovens, pois serão o tema principal de nosso comentário!! Na reflexão passada trouxemos dados mostrando a expansão da renda e do emprego no Brasil. Esta expansão foi mais intensa fora de nossa região Sudeste e em estados que investiram mais, mas seus efeitos são observados em todos os estados e municípios. Trata-se, segundo alguns economistas, do surgimento de um novo perfil de economia, baseado, segundo Ricardo Bielschowsky em três poderosas frentes de expansão, que poucos países do mundo dispõem: mercado interno de consumo de massa, forte demanda por recursos naturais e perspectivas favoráveis quanto ao investimento em infraestrutura produtiva e residencial.
Na reflexão passada mostramos que a expansão do consumo se assenta na renda do emprego. Tanto o segmento dos novos trabalhadores, com pequenos salários, que busca satisfazer demandas de consumo represadas quanto aqueles que recentemente alcançaram a chamada classe C vem provocando importantes modificações no perfil da economia brasileira. Nessas duas camadas sociais, os protagonistas são a população jovem, especialmente aqueles moços e moças de 18 a 25 anos, que constituem um segmento muito especial, social, política e culturalmente. E que cada vez mais se afirmam como cidadãos, com opiniões e expectativas que gostariam de verem valorizadas e respeitadas.
Com relação à escolaridade, podemos dizer que ela está em franco crescimento. Cada vez mais jovens concluem o ensino médio e tem muitas alternativas para se dedicar ao ensino superior, e não apenas com conhecidas siglas como o Prouni e o Fies. Também se ampliou o acesso às Universidades Públicas, pela combinação do Enem e do Sisu, conforme tem sido amplamente noticiado nestes dias. Há, inclusive, uma expansão das chamadas políticas afirmativas que valorizam os alunos de escolas públicas, alunos pobres e algumas importantes experiências de políticas afirmativas para jovens negros, ampliando as condições para seu desenvolvimento humano.
Artigo recente do jornal O Estado mostrou que o segmento social que evoluiu da camada D para C nos últimos anos, teve grandes mudanças nas suas aspirações e projetos. Segundo Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV, os gastos com turismo triplicaram e com alimentação duplicaram. Muitas pessoas dessa nova classe média usam o poder de compra para estudar no exterior, porque vêem a educação como mecanismo de ascensão social.
Um bom exemplo citado no artigo é o de Caio, 17 anos, filho de taxista com dona de casa, que economizou o salário de auxiliar administrativo e, com ajuda do pai, foi aos Estados Unidos para estudar inglês. Caio, que acaba de concluir o ensino médio em uma escola estadual da zona leste de São Paulo, foi aprovado numa faculdade para fazer Comércio Exterior. Foi o primeiro da casa a viajar de avião, o que, por si só, já é motivo de orgulho para uma típica família da classe C. E o reflexo nas empresas é expressivo. No caso da empresa que atendeu Caio, há 14 anos, as classes A e B representavam 80% do faturamento. Hoje, a classe C responde por mais da metade do faturamento.
Belo exemplo, não? Mas ainda lhes perguntaria se imaginam quantos puderam ter uma oportunidade como a de Caio? A matéria citada nos informa que foram mais de 160 mil jovens, tendo como um dos principais destinos o Canadá e a maioria é de estudantes de 18 a 25 anos.
O segundo exemplo de hoje mostra que o jovem da periferia foi o principal consumidor de crédito em 2011, usado para compra de carro e moto, além do maior uso do cartão de crédito. Segundo estudo feito pela Serasa Experian, entre 2008 e 2011, a participação do jovem de periferia no total da procura por crédito cresceu devido à participação crescente dessa população no mercado de trabalho e à maior mobilidade social, até tornar-se o principal grupo consumidor no país. No ano de 2011, das quase 2 milhões de motos comercializadas, quase 90% do total de unidades comercializadas era de motos populares usadas pelos jovens das classes C, D e E que trabalham como motoboys ou para locomoção dessa população para ir ao trabalho, substituindo o ônibus”.
E essa expansão não tem gerado endividamento nem níveis de inadimplência excessivos, que ameacem a economia. Ao contrário, a ampliação do crédito cresce ao ritmo médio de quase 22% ao ano desde 2004, mas sem comprometer a sustentabilidade da economia.
Nossa problematização de hoje, entretanto, se afasta do justificado otimismo refletido nesses bons exemplos que tem os jovens como protagonistas. E nos mostra a necessidade de mudanças nas formas como a sociedade trata a juventude no Brasil e, especificamente, na nossa cidade. Essa luta, que vem de muitos anos, tem como objetivo, sobretudo, reverter idéias preconceituosas a respeito dos jovens brasileiros, frequentemente tidos como um problema social a ser estancado, como se todos fossem potenciais delinquentes. A sociedade como um todo, com os governos à frente, devem apoiar o seu desenvolvimento integral, promovendo direitos, oportunidades e reconhecendo a enorme diversidade de interesses e demandas da juventude, e não resumindo a um caso de polícia, que infelizmente, tem um histórico de violações de direitos e uso excessivo da força, que ainda não foi modificado.
Como diz o Manifesto intitulado “Organizações repudiam ações de governo contra jovens em SP”, assinado por dezenas de entidades, a consolidação da democracia passa por respeitar o jovem, conforme o Estatuto da Juventude recentemente aprovado na Câmara dos Deputados.
A ocupação policial na Nova Luz, com uso de tropa de choque e balas de borracha e gás lacrimogênio contra jovens extremamente fragilizados, usuários de drogas que vivem ou frequentam aquela área e a violência despropositada contra estudantes, incluindo aquela abordagem horrorosa com arma a um jovem estudante negro dentro da USP, são exemplo de abordagens preconceituosas baseadas na aparência das pessoas. Estas situações não são apenas devidas a más condutas individuais de agentes do Estado, mas a orientações de escalões superiores, seguindo concepções atrasadas e violentas.
Termino a reflexão citando o Padre Julio Lancelotti: “Quem é tratado, sistematicamente, com violência vai desacreditando de si mesmo e dos outros. As feridas da violência deixam cicatrizes para sempre”. E termina ele dizendo: “Espero que nesta semana possamos avançar na busca de superação da violência como método, pois, usada como meio acaba tornando-se fim”.
FONTE: O artigo de Pedro Aguerre nos foi enviado diretamente pelo autor, tendo sido primeiramente veiculado pela Rádio 9 de Julho no dia 18 de jameiro de 2012. Sua reprodução é autorizada pela Rádio 9 de Julho.