INTERNACIONAL
Indeterminações no Oriente Médio
Não é fácil entender o que acontece no Oriente Médio. As fontes de informações são pouco confiáveis. Analistas consideram que pelo menos 12 países da região foram atingidos pela onda de protestos. A primavera árabe ainda foi uma forte mobilização dos povos para mais participação na vida do país e para uma maior distribuição das riquezas. É possível (e pouco provável) que voltem os protestos se as aspirações não forem consideradas.
Enquanto o clima político se abrandou no Egito e na Líbia, a situação piora na Síria. Os protestos inicialmente tranquilos (de janeiro de 2011) deram lugar aos poucos à uma guerra civil por causa da repressão violenta do presidente Assad. Hoje, milhares de soldados e de cidadãos fogem para os países vizinhos; milhares de soldados (inclusive chefes) desertam e se juntam às forças da oposição. O exército de Assad bombardeia cidades onde considera que a oposição está presente. A ONU estima que já sejam mais de 10.000 os mortos, entre os quais muitos civis. Kofi Annan, ex-secretario geral da ONU, que fez já vários viagens a Damasco para negociar a paz, estima que não há vontade de negociar por parte do Conselho Nacional Síria. O fim do regime Assad pode estar mais próximo se países ocidentais (Europa), a China e a Rússia mudarem de posições considerando que o apoio a Assad, por discreto que seja, sob forma de “neutralidade”, já se torna impossível diante da opinião pública e prejudicial para os seus interesses.
Muitos consideram que, em todos esses levantamentos, a mão de Al Qaeda ou da Irmandade Muçulmana está atuando, assim como o Hezbolha, solidamente apoiado por Teerã.
Até quando florescerá a primavera árabe e quando colheremos os bons frutos?
Europa: uma saída da crise pelo alto
Parece que a União Europeia (UE) não sabe aonde quer ir, nem por quais caminhos. Falta uma visão política comum do presente e do futuro. A crise revela as falhas de uma instituição cujo projeto inicial foi chegar à uma integração maior dos países europeus para mais justiça e paz entre os povos da região. Para os fundadores, o projeto não era em primeiro lugar econômico, mas, sim, político, social, cultural e ético (respeito dos direitos sociais e humanos).
Agora a UE se encontra no meio duma tempestade que ameaça o seu futuro. Nunca a União foi tão ameaçada de fracasso e nunca os europeus sentiram como seu destino é comum. A quantidade de encontros do Conselho Europeu (chefes de Estado ou de governos) em Bruxelas, cada qual “da última chance”, manifesta a gravidade da situação e a vontade de sair dela.
Crise de “crescimento” da UE pelo bem ou pelo mal. Sem demorar, UE deverá encontrar os instrumentos para que tal crise não volte. De certa maneira já houve solidariedade entre os países, para salvar a UE. A construção da UE é um processo contínuo. Quando uma bicicleta para, ela cai; quando o processo de construção de políticas de integração para, a UE parece inútil e pesada. A ameaça maior é o da burocratização, do legalismo.
A primeira manifestação da crise foi em 2008, nos EUA, quando o banco Lhemann Brothers faliu. Pelo “efeito dominó”, a crise se estendeu a toda a Europa e no mundo todo. A inadimplência da Grécia e os imensos empréstimos que recebeu (e perdão da dívida) abalaram o mercado financeiro. Todos os países são fragilizados. Em diferentes níveis, a crise atinge os países ricos, os emergentes e pobres. A prioridade atual é de não deixar a crise apoderar-se da Espanha.
Na raiz da crise encontra-se uma especulação desenfreada. As maiores consequências ainda estão para vir. Quase todos os Estados estão endividados até o pescoço. Os investimentos externos e internos são fracos. O dinheiro se torna caro. Cresce perigosamente o desemprego; os salários diminuem. Em quase todos os países da União o povo sai às ruas para defender suas conquistas sociais e trabalhistas. Os países tendem a fechar-se sobre si mesmos, sobre os seus interesses; reaparecem as fronteiras.
Há dois caminhos opostos para sair da crise. Nos dois casos o tempo para recuperar-se será longo e demorado. O caminho liberal preconiza a austeridade, as nacionalizações, a redução dos Estados e dos seus gastos. O outro caminho, mais social, de tipo “Keynesiano”, prioriza um relançamento, um reaquecimento da economia, com uma participação ativa dos Estados.
Os dois caminhos existem na União. A única saída para evitar o fracasso, e para construir a Europa, é, para cada país, defender não apenas os seus próprios interesses mas o interesse comum da Europa.