A terceira noite da Semana de Fé e Política 2013 - Juventude, Cultura e Espiritualidade ocorreu ontem no Centro Pastoral São José do Belém com cerca de 60 participantes. O encontro foi apresentado pelo Dyego (Pastoral da Juventude) que abriu a noite convidando para a Mística que foi conduzida pela Liz (Coordenadora das CEBs). Com cantos, resgates dos profetas e profetizas do nosso tempo e a oração do 13o Encontro Intereclesial das CEBs, o encontro foi aberto.
Contamos com a presença dos Pequenos produtores de Ibiuna que são parceiros do Movimento Integração Campo-Cidade (MICC) e animaram a noite com cantigas que nos ajudaram a pensar em Justiça e Profetismo.
D. Edmar, o bispo regional, retomou o encontro recente com o papa na JMJ que nos chamou à solidariedade e todos somos chamados a nos comprometer com um mundo melhor e a trabalhar por isso. Não podemos eleger culpados para a situação de desigualdade e isentar a nossa culpa, todos somos chamados à transformar o individualismo em partilha, comunhão e solidariedade.
O Pe. Fernando Doren da Congregação Verbo Divino desenvolveu o tema Justiça e Profecia enfatizando que o profeta/a profetiza é porta-voz de Deus, ele não fala de si, mas em nome de Deus. O que exige muita oração e também escuta, simpatia e empatia com o povo de Deus. O Profeta anuncia a vontade de Deus e que o caminho para a justiça do Reino que envolve :(=Veja Mesters e Orofino)
1. Cuidar dos doentes e acolher os excluídos;
2. Insistir na dimensão caseira e familiar da vida e da fé;
3. Recuperar a dimensão sagrada e festiva da Casa;
4. Reconstruir a vida comunitária;
5. Recuperar igualdade homem e mulher;
6. Ir ao encontro das pessoas;
7. Acolher o povo e recuperar os direitos dos pobres;
8. Superar as barreiras de gênero, religião, raça e classe;
9. Criticar e denunciar os que impedem a justiça do Reino;
10. Reconciliar as pessoas e refazer o relacionamento humano na base).
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Em sintonia com a temática da Cultura e do profetismo leu o poema Eu sei, mas não devia! Marina Colasanti
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.
Encerrou sua fala com os questionamentos:
E hoje, inspirados nos profetas, como Amós e tantos outros profetas, nos sábios e nos apocalípticos, que atualizaram e recriaram a profecia, como seguidoras e seguidores de Jesus, como podemos retomar a profecia para alimentar o nosso engajamento na busca de uma sociedade justa?
Quais são os espoliados de hoje?
Qual a nossa credencial de profetas e profetisas?
Qual a mística que sustenta a nossa ação ao lado dos crucificados de hoje?
Os presentes silenciaram, refletiram e depois partilharam esses questionamentos.
A proposta de continuidade da Semana de Fé e Política se deu com a formação de grupos nos bairros que irão refletir Cultura do Bem Viver: partilha e poder, material de preparo ao 9º ENCONTRO NACIONAL FÉ E POLÍTICA que vai ocorrer em 15 a 17/11/2013 - Brasília/DF. Esse preparo envolve grupos e comunidades reunidos em sete roteiros de encontros com a Cartilha dos Círculos Bíblicos preparados por Frei Carlos Mesters e Francisco Orofino, disponível no CEBI.
Em 09/11/2013, às 9:00h esse grupos irão se reencontrar em um encontro regional no Centro Pastoral, partilhar e celebrar a caminhada dos grupos.
Fonte: O rtigo nos foi enviado diretamente pela autora