PASTORAL FÉ E POLÍTICA

Arquidiocese de São Paulo

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Liberdade não se Compra, Dignidade não se Vende (2)

Na semana passada comentamos sobre o lançamento da Campanha da Fraternidade 2014 em nossa Arquidiocese que será dia 07 de dezembro a partir das 8:30h no Centro Pastoral São José do Belém. O tema é Fraternidade e o tráfico de seres humanos e o lema é "É para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gl 5, 1). O desafio desta campanha é debater o problema do tráfico humano em nossas comunidades. Por isso vamos dentro da proposta do ver da CF conhecer alguns dados sobre este crime contra a dignidade da pessoa humana.

O tráfico de seres humanos é um crime organizado que muitas vezes torna-se invisível, com rotas de entrada e saída do Brasil. As vezes a gente enxerga e não vê! As vezes a gente não quer ver! Envolve o aliciamento da vítima com uma proposta de realização dos seus sonhos e solução dos seus problemas e a coação uma vez que a vítima aceitou. O Tráfico envolve por vezes o usa da força, em outras o rapto, e na maioria das vezes o engano da vítima com promessas sedutoras.

Quem são esses aliciadores?

Quase sempre é conhecido da vítima e tem poder de convencimento. Utiliza frases do tipo: "Você não quer ir à Europa"? "Você vai ter isso e muito mais". O aliciador oferece o que o outro, ou seja, a vítima tem como carência. Age na sua fragilidade.

Quem são então as vítimas?

São pessoas em situação de vulnerabilidade social e dificuldades econômicas.

  • Os aliciados são seduzidos e nós facilmente os culpamos.
  • Nós dizemos: Já era uma prostituta... já era segunda classe... A Rede Globo diz era quase gente e nós damos risada aos sábados à noite.

Será que Jesus agiria assim? Como ele agiu diante da prostituta? Ele restituiu a sua dignidade!

Precisamos desenvolver a possibilidade da escuta. Muitas vezes a pessoa quer ser ouvida e a gente não percebe.

Nesse cenário do tráfico de seres humanos, a mobilidade humana e a busca pelo trabalho atuam com força. Temos então a migração que se dá em busca de melhores condições de trabalho. Pelo desejo de ir para a grande cidade e pelo fato da Juventude que vive na roça não ser vista e nem se ver com grandes possibilidades. Isso porque vivemos numa sociedade de consumo, do ter. O Contrabando de pessoas envolve a Rota migratória clandestina de pessoas invisíveis à sociedade. Os brasileiros são contrabandeados no mundo todo. Os haitianos entram por essa rotas de contrabando no Brasil. Quando um refugiado não se encontra em segurança, facilmente é cooptado pelo crime organizado. Temos muitos migrantes bolivianos que são explorados pelos coreanos e próprios bolivianos já estabelecidos aqui no Brasil.

Nossa sociedade diz que "gente" é quem tem um tênis bonito. Um celular de última geração!

A busca do lucro pelo lucro afeta as condições do trabalhador e vemos com frequência, mas não sem causar tamanha indignação os acidentes de trabalho que tem causado tantas vítimas na construção civil e no caríssimo Estádio que será a sede da abertura da Copa do Mundo. Construção esta que está manchada com o sangue de dois trabalhadores que perderam sua vida. A Copa também nos preocupa quanto ao turismo e exploração sexual que atuarão fortemente nas cidades sede.

O trabalho tem a chaga da informalidade, onde não há garantias de direitos. Tem também as terceirizações e a precarização do trabalho. Todas essas são condições que favorecem essas vítimas em potencial ao tráfico de seres humanos.

Pessoas que sofrem o preconceito de não serem aceitas na sociedade, pois não tem condições de ter aquilo que é considerado indispensável numa sociedade de consumo. Como nós cristãos agimos diante de tudo isso? Será que também atiramos pedras?

Muitas pessoas dizem que o crime teve o consentimento da vítima. Mas que consentimento é este que se deu sob coação ou ilusão? A finalidade é a exploração e nós queremos a liberdade. "É para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gl 5, 1)

Como Perspectivas de enfrentamento do tráfico de seres humanos a CF traz algumas propostas como

Divulgação da lista de pessoas indiciadas no país por conta do tráfico humano.

II Plano Nacional de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

5 linhas de enfrentamento

  • aperfeiçoamento do marco regulatório
  • integração e fortalecimento de políticas publicas
  • capacitação ao enfrentamento
  • produção de informação
  • campanhas e mobilização ao enfrentamento

Podemos abrir nossas comunidades para divulgar o tráfico e assim agir no nível da prevenção e da denúncia, principalmente com os adolescentes e jovens.

Participe da capacitação amanhã, dia 07/12, às 8:30h no Centro Pastoral São José do Belém.

 

Fonte: Programa exibido na Rádio 9 de Julho no Programa Igreja em Notícia no dia 06/12/2013. Artigo reproduzido aqui com autorização da autora.

Márcia M. de Castro

Márcia M. de Castro
Márcia Mathias de Castro é fonoaudióloga, membro da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo e Coordenadora da Escola de Fé e Política Waldemar Rossi (RE Belém). Também é colaboradora da Rádio 9 de Julho (AM 1.600 KHz - SP), participou da Escola de Governo e do Movimento de Integração Campo Cidade (MICC).