Quando abordamos a questão da ética no cenário político, normalmente as pessoas esperam que a abordagem seja simplesmente sobre o estado, nós “os mandatários” e aqueles que lidam com a máquina pública. Sem dúvida alguma, a imagem dos políticos vem se desgastando junto à população ao longo do tempo. E isso faz com que o centro dessa discussão se prenda no papel vergonhoso que alguns dos meus colegas mandatários desempenham no cenário político brasileiro (é bom frisar que são apenas alguns, pois existem bons mandatários e isso precisa ser dito). Mas não podemos nos restringir apenas ao mandatário.
Existem outros aspectos importantes que envolvem esse tema e que merecem a nossa atenção.
Não existe corrupção sem a figura do corruptor, pois se há alguém cometendo o crime de compra de votos é por que existe outro alguém o vendendo. É oportuno lembrar que a frase que intitula o nosso artigo desse mês representa um grave pecado social, pois caracteriza exatamente essa relação nefasta e inescrupulosa que tanto estraga a política. Vender o voto é um crime tão grave como comprá-lo. Além disso, essas práticas ofendem a Deus e ao projeto de Construção do seu Reino de amor e Justiça.
Sob o ponto de vista ético, podemos abordar dois cenários bastante claros de atuação do leigo engajado na caminhada de Igreja: o mandatário e o eleitor. Ambos com igual responsabilidade no desempenho de suas funções. O primeiro, onde eu me encontro atuando hoje, precisa antes de qualquer coisa entender que o seu papel é a busca constante pelo bem comum. E sob este aspecto, faz-se necessário lembrar que o bem estar do coletivo deve ser prioridade e sobrepujar o interesse pessoal. É inadmissível, sob o ponto de vista ético-cristão, que o comportamento de um mandatário não esteja em sintonia com essa visão, muito bem destacada no documento da CNBB: "Ética: Pessoa e Sociedade" onde fica claro que todo o mandato e a ação de um mandatário é público. E no mais correto entendimento deste termo, o que é público, tem que ser de todos. Se não fosse assim, não seria chamado de "público" e sim de privado. Ainda dentro da necessidade ética do mandatário, é necessário romper o laço que une a política aos negócios. O processo político democrático administra o "negócio" de todo o povo e não os negócios privados, segundo o viés patrimonialista do estado brasileiro. Enquanto a força do poder econômico determinar a política, através do financiamento privado de campanhas, "lobbies", mandatos que são utilizados para “angariar clientes” para os escritórios ou consultorias desse ou daquele mandatário, mandatos utilizados para servir a interesses de empresas privadas e etc., a política será fonte de corrupção, injustiça e instabilidade social.
O outro ponto importante da atuação do leigo católico é o de “eleitor”. A relação dele com o voto precisa ser regida pelos princípios éticos. É incompatível e inaceitável que um eleitor ainda "venda" o seu voto, e o que é pior, convença a outras pessoas a votarem em "tal candidato" por interesses próprios.
Promessas de empregos, benefícios oriundos de transações "inescrupulosas" bem como vantagens em determinadas ações do mandatário são incompatíveis com o comportamento ético-cristão. Temos em nossas mãos uma grande arma e que precisa ser tratada com seriedade e em benefício do bem-comum: o voto. Precisamos respaldar a nossa conduta política na ética cristã, pois a política é, por essência, ética, já que se refere sempre à liberdade e, essencialmente, à justiça. Aliás, recorro-me a Santo Agostinho, que muito oportunamente, declarou: "Removida a justiça, o que são os reinos senão um bando de ladrões?".
Não existe corrupção sem a figura do corruptor, pois se há alguém cometendo o crime de compra de votos é por que existe outro alguém o vendendo. É oportuno lembrar que a frase que intitula o nosso artigo desse mês representa um grave pecado social, pois caracteriza exatamente essa relação nefasta e inescrupulosa que tanto estraga a política. Vender o voto é um crime tão grave como comprá-lo. Além disso, essas práticas ofendem a Deus e ao projeto de Construção do seu Reino de amor e Justiça.
Um grande abraço, a Paz de Cristo e vamos colocar sempre o “Bem Comum acima de tudo”.
FONTE: Texto reproduzido a partir de seu original divulgado pela Paróquia N. Senhora de Loreto (RJ), com a autorização do autor.
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Robson Campos Leite é escritor, professor universitário, político, palestrante, comentarista do programa “Juventude em Ação” e debatedor do programa “Vox Populi Jovem”, além de assessor de movimentos sociais. Escreve as colunas “Fé e Política”, do jornal "O Mensageiro" da P. N. S. de Loreto, e “Construindo Cidadania”, do jornal católico Missão Jovem, colaborando também em diversos sites católicos. Recentemente foi eleito Deputado Estadual pelo Rio de Janeiro.