Jundiaí, cidade com quase 400 mil habitantes, sofre com a síndrome da falta de representatividade. Por conta de concorrer a vaga de prefeito do município, na eleição de outubro, o deputado federal Luiz Fernando Machado (PSDB) e o deputado estadual Pedro Bigardi (PCdoB), se licenciaram dos cargos, provocando um vácuo de representatividade, na Câmara Federal e na Assembléia Legislativa.
Por outro lado, a partir do dia 26 de setembro, o prefeito Miguel Haddad (PSDB), também se licenciou do cargo, para fazer campana para o ex-vice prefeito Luiz Fernando Machado (PSDB), que licenciado dos cargos de vice-prefeito e deputado federal, concorre a vaga de prefeito.
Neste caso, pelas leis vigentes, assumiria o cargo o presidente da câmara municipal, o vereador Julio Cesar de Oliveira (PSDB). Porém, devido ao fato de ele estar em campanha para a reeleição a um novo mandato, também não assumiu o cargo de prefeito. A solução encontrada foi criar uma junta administrativa formada pelos secretários municipais Gustavo Maryssael de Campos (Negócios Jurídicos), José Roberto Rizzotti (Finanças) e Oraci Gotardo (Assuntos Parlamentares).
O fato gerou as mais diversas reações na cidade. Veja abaixo transcrição da opinião do estudante e membro do Movimento Voto Consciente Jundiaí, Henrique Parra Parra Filho, sobre o assunto:
“A lógica de se manter no poder acaba se tornando mais forte do que de ocupá-lo. Governar para sempre se torna mais importante do que governar. É um paradoxo que entende "poder" enquanto recurso e não enquanto "capacidade de transformar".
É isso que explica tantas reuniões no Paço Municipal para pedir apoio. É isso que explica tantos comissionados como Candidatos, Presidentes de Partidos ou Cabos Eleitorais. É isso que explica termos chegado ao ponto de estarmos sem Prefeito, sem Vice e optar por uma junta em vez do Presidente da Câmara. Tudo isso a um custo enorme, de cargos e salários que poderiam servir melhor ao cidadão.
Tomar essa decisão rompe com o elo que conecta Sociedade e Estado. Os governantes passam a ser candidatos e passam a atuar com vistas aos seus próprios interesses político-pessoais. A sociedade naturaliza isso, indiferente ou desesperançosa. Deixamos de lado a necessária construção de um Serviço Público profissionalizado, apaixonado e protagonista. Esse é o maior prejuízo.
A lógica de se manter no poder não é jundiaiense e, embora aconteça aqui, se repete em muitas outras cidades. Reduzir os cargos comissionados de forma drástica, profissionalizar a gestão pública, cumprir mandatos integralmente, construir um secretariado mais técnico são desafios que qualquer político precisa enfrentar. Gostaria de uma cidade que ensinasse isso ao Brasil.”
Reinaldo Oliveira é jornalista e membro da Pastoral Fé e Política da Diocese de Jundiaí (SP).
FONTE: Pastoral Fé e Política da Diocese de Jundiaí (SP)