A transmissão da fé aos outros (dimensão apostólica) é parte essencial da missão da Igreja e precisa ser transmitida de uma geração para outra. Na Carta Pastoral: Senhor, aumentai a nossa fé! Dom Odilo referiu-se ao Apóstolo Paulo que destacou a família na missão importantíssima da transmissão da fé (cf 2Tm 1,5) .
Reportou-se também ao Livro do Deuteronômio que anuncia a missão dos pais e avós cristãos na transmissão da fé aos filhos.: “gravai estas minhas palavras em vossos corações. Ensinai-as a vossos filhos, falando-lhes delas, seja quando estiverdes sentados em casa, seja andando a caminho” (cf Dt 11,18-19).
Como está o nosso testemunho de fé aos nossos familiares? Ao participar da Liturgia nós recebemos o alimento da fé que é a Palavra de Deus e o Cristo Sacramentado. Esse alimento vai direcionar o nosso agir também em casa com nossos familiares e estando no tempo do advento, vale a pena refletir um pouco no modelo de família que a nossa fé nos apresenta: a Sagrada Família. Ensina-nos o Catecismo da Igreja Católica (CIC 1655) que "Cristo quis nascer e crescer no seio da Sagrada Família José e Maria. O Concílio Vaticano II chamou a família pela expressão "Ecclesia domestica", pois é no seio da família que os pais são 'para os filhos, pela palavra e pelo exemplo... os primeiros mestres da fé'."
O Natal nos coloca diante do mistério da Encarnação! Deus quando resolveu assumir a natureza humana, quis que isso acontecesse em uma família. Mas que família? Simples, humilde, honrada e na pobreza. Jesus teve pais unidos, religiosos, trabalhadores, honrados, solidários com a comunidade, conscientes e responsáveis por sua formação escolar, cívica, religiosa e profissional. Maria, José e Jesus são o modelo da família que Deus Pai quer nos mostrar, que cada lar deve ser uma "Igreja Doméstica", pequena comunidade.
Pois bem, se a família é a Igreja doméstica e célula da sociedade (CIC 2207), por quê estamos vivendo em uma sociedade sem valores, violenta, individualista e preconceituosa? A família cristã é espaço de se aprender a perseverar, ter alegria pelo trabalho, experimentar o amor fraterno, o perdão generoso, a oração e oferta da própria vida (CIC 1657).
Na Doutrina Social da Igreja destaca-se a denúncia de que hoje, a família cristã se priva, muitas vezes, da sua dimensão sagrada. Mal se dá conta que o amor de Deus em Cristo a uniu para ser sinal visível de sua presença em todas as expressões da vida familiar. Quanto mais difícil se torna a proposta cristã para família contemporânea, mais imperioso se faz anunciá-la como boa e alegre notícia de salvação. Há uma espiritualidade familiar e uma ética própria, baseada na abertura da família aos apelos de Deus, do meio social e cultural e das necessidades de seus membros. O critério supremo da vida familiar é o amor ou, se preferir, a caridade como veículo da perfeição. Neste sentido, a família cristã se instaura no mundo e na Igreja como escola de amor a Deus e ao próximo.
Vale a pena refletir se nas atividades voltadas para a família estamos atento à dimensão de que a família cristã não é fechada em si mesma, mas é célula originária da vida social. A dimensão política da família, presente no CIC (1908) deve-se ao fato de que o bem comum exige o bem-estar social que é o resumo de todos os deveres sociais, ter acesso ao necessário para levar uma vida verdadeiramente humana: alimento, vestuário, saúde, trabalho, educação e cultura, informação conveniente, direito de fundar um lar etc.
Um dos objetivos do Ano da Fé é pedir perdão a Deus pelas infidelidades contra a fé. Na certeza de que permanecemos unidos a Cristo, aproveitemos este tempo sagrado do Advento para pedir a graça de tomarmos consciência sobre como estamos vivendo como família cristã e de nos tornarmos sal e luz na sociedade.
Fonte: Artigo enviado diretamente pela autora, tendo sido primeiramente veiculado pela Rádio Nove de Julho (1.600 KHz/SP)