Nesta segunda década do século XXI, a sociedade brasileira vive tempos novos e estimulantes. 2012 traz perspectivas positivas, até melhores que 2011, ano em que a economia avançou e em que a qualidade de vida da população brasileira melhorou. Acredito ser possível detectar sinais de esperança no horizonte, embora ainda convivendo com níveis elevados de desigualdade, pobreza e violações dos direitos humanos.
Quase 60 milhões de pessoas foram agregadas àquilo que é chamado de nova classe média, entre 1993 e 2011, quase a população da França. O que é uma ótima notícia, pois fez com que novamente neste Natal que se passou, uma grande parcela da população pudesse participar, não só como indivíduo, com sua família, mas também como consumidora da celebração natalina, e as notícias mostraram que os campeões de vendas foram os bens de consumo durável, isto é, fogões, geladeiras, TVs, computadores, ou seja, itens essenciais para a melhoria da qualidade de vida!! Este dado se soma a outros, como o alto volume de empregos gerados no País, e acaba mostrando um lado positivo do momento atual no País. E se deve a que a renda disponível para consumo dos mais pobres continuou aumentando (em 2010, a renda das camadas sociais mais pobres aumentou em 70%, enquanto que a da nova classe média aumentou 19%). E ainda teve pequena redução nos juros e redução de impostos de alguns produtos.
RENDA DISPONÍVEL
Classe social em 2009 em 2010 variação
A/B R$ 680 R$ 991 46 %
C R$ 204 R$ 243 19 %
D/E R$ 61 R$ 104 70 %
E isto faz com que muitas famílias possam descansar e, em muitos casos, deslocar-se e visitar parentes ou usufruir de merecidas férias!!
Mas aproveitemos para provocar uma reflexão!! A mídia noticiou que o País superou a Inglaterra tornando-se a sexta maior economia do Mundo. Este dado tem duas faces, a primeira é que se trata de mais um sinal da crise que assola fortemente o chamado primeiro mundo, a Europa. A segunda é a capacidade que o Brasil tem tido para continuar crescendo, não só em épocas de tranqüilidade, mas também em contextos de crise global, como no atual período. Mas, nós, a população em geral, a sociedade, nos sentimos participando do banquete de sermos a sexta economia do mundo? Creio que é fácil deduzir que não...
Nestes comentários para a rádio 9 de julho, nossa intenção é falar sobre nosso país, como estamos? E para isso mostraremos os desafios de nossa evolução social e econômica a cada momento, e como cada um de nós faz parte da solução!! Cidadania ativa, participação, atenção para com aqueles mais vulneráveis, enfim, tentaremos traduzir os índices e números da nossa realidade, permitindo conhecermo-nos um pouquinho mais, mas nos fazendo refletir sobre nossa realidade.
E qual é o ponto de crítica hoje? É que mesmo nas regiões mais ricas do País, coexistem níveis impressionantes de pobreza e falta de acesso aos bens sociais. Um a cada quatro habitantes na cidade de são Paulo vive com renda entre meio e dois salários mínimos!!! Com relação à região metropolitana de São Paulo, dados do IPEA, mostram que se em 2002 os muito pobres eram sete milhões, agora são 4,2. O que ainda é um mundo de gente...
E por que tanta pobreza? Por causa da grande desigualdade social, um problema estrutural, histórico, de causas complexas, como a péssima estrutura da propriedade da terra, que expulsou, nas últimas décadas, muitos milhões do campo para as cidades, de governos ditatoriais que não tinham compromisso com a melhoria da qualidade de vida da população, e de um modelo de desenvolvimento voltado para o mercado exterior e para uns poucos privilegiados. Foi isto que fez com que a diferença entre a renda média de uma pessoa pertencente ao grupo dos 10% mais ricos (5 mil reais por pessoa/mês) chegasse ao absurdo patamar de ser 39 vezes maior do que a de dos 10% mais pobres, onde, em média, uma pessoa só disporá, de R$ 137 por mês.
Bem, são questões como estas que queremos aqui discutir, mesclando dados oficiais e reflexões, procurando dialogar com um público bastante diverso, composto de homens e mulheres, de diversas idades, e que desfrutam de diferentes níveis de qualidade de vida, que estão espalhados por tantos lugares, não só em São Paulo mas também em vários municípios desta grande metrópole que abriga nossos sonhos e progressos, mas que também é o lugar do duro cotidiano, que não nos proporciona, muitas vezes, o tempo e o ambiente para responder: como contribuir para transformar esta realidade?
Passado o natal, só nos resta desejar uma ótima passagem de ano, com mais solidariedade, união e partilha entre nós!
FONTE: O artigo de Pedro Aguerre nos foi enviado diretamente pelo autor, tendo sido primeiramente veiculado pela Rádio 9 de Julho no dia 28 de dezembro de 2011. Sua reprodução é autorizada pela Rádio 9 de Julho.