Ó Deus, que nos deste a água
capaz de matar a sede,
nos livra de toda a mágoa
que tece uma estranha rede.
Ó Deus, que no Mar Vermelho
fizeste da servidão
imagem de antigo espelho,
confirma a libertação.
Ó Deus, que da pedra dura
tiraste uma água clara,
teu Reino já se inaugura
e o nosso caminho ampara.
Ó Deus, que notaste o pranto
do povo na caminhada;
em vez de julgar, no entanto,
tu foste a mão desarmada.
Ó Deus, que com tal surpresa
nos falas junto ao Jordão,
teu Filho é razão, certeza,
é o gesto da tua mão.
Ó Deus, no teu Filho Santo
vieste do poço à beira
falar de um roteiro e tanto,
nos dar água verdadeira.
Ó Deus, o teu Filho então
toalha e bacia pede
e faz do serviço o Pão
que a toda opressão despede.
Ó Deus, o poder que oprime
não quer que o teu Reino seja,
e faz de tua lei um crime
que fere a melhor peleja.
Ó Deus, mas na cruz, agora,
parece que tudo cala...
Da lança uma água aflora
no peito que já não fala.
Ó Deus, mas foi tudo em vão?...
A nossa esperança é um não?...
Vem, lava a nossa razão
com tua ressurreição!
Fonte: O poema nos foi enviado diretamente pelo autor.