PASTORAL FÉ E POLÍTICA

Arquidiocese de São Paulo

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Fraternidade, Fundamento e Caminho para a Paz

Neste nosso 1o encontro de 2014, vamos conhecer a síntese da mensagem do Papa Francisco para a Paz Mundial (1º janeiro 2014) que ele concebe em 10 pontos.


1. FRATERNIDADE, FUNDAMENTO E CAMINHO PARA A PAZ

A fraternidade se começa a aprender habitualmente no seio da família, que é fonte de fraternidade, fundamento e caminho primário para a paz.

A vocação de formar uma comunidade de irmãos é negada na «indiferença» que nos faz «habituar» ao sofrimento alheio. O individualismo e o consumismo, debilitam os laços sociais, alimentando a mentalidade do «descartável» que induz ao abandono dos mais fracos e a grave lesão dos direitos humanos, como o tráfico de seres humanos.

2. «Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9)

Na Sagrada Escritura, a narração de Caim e Abel ensina que a humanidade traz a vocação à fraternidade, mas também a possibilidade da traição. O egoísmo está na base das guerras e injustiças: muitos homens morrem pela mão de irmãos que não sabem reconhecer-se como tais, isto é, como seres feitos para reciprocidade, comunhão e doação.

3. «E vós sois todos irmãos» (Mt 23, 8)

A raiz da fraternidade está na paternidade de Deus, no amor pessoal e concreto de Deus por cada um dos homens (cf. Mt 6, 25-30). Trata-se de uma paternidade geradora de fraternidade. Em Cristo, o outro é acolhido e amado como filho de Deus, como irmão, e não como estranho ou inimigo. Na família de Deus não há «vidas descartáveis». Todos gozam de igual dignidade; são amados por Deus, foram resgatados pelo sangue de Cristo, que morreu na cruz e ressuscitou por cada um. Esta é a razão pela qual não se pode ficar indiferente perante a sorte dos irmãos.

4. A fraternidade, fundamento e caminho para a paz

O desenvolvimento integral dos povos é o novo nome da paz (Populorum progressio, de Paulo VI), uma vez que a paz é fruto da solidariedade (Sollicitudo rei socialis, de João Paulo II).

O dever de solidariedade exige que nações ricas ajudem as menos avançadas; o dever de justiça social requer a reformulação das relações defeituosas entre povos fortes e fracos; o dever de caridade universal implica a promoção de um mundo mais humano, sem que o progresso de uns seja obstáculo ao desenvolvimento dos outros (Paulo VI).

A paz só pode ser conquistada se estiver viva, em todos, «a determinação de se empenhar pelo bem comum». Isto implica não deixar-se guiar pelo «lucro» e «poder». O “outro” – pessoa, povo ou nação – [não deve ser visto] como um instrumento, que se explora a capacidade de trabalhar, para abandonar quando já não serve; mas sim como um nosso “semelhante”» 
(João Paulo II).

5. A fraternidade, premissa para vencer a pobreza

Uma causa importante da pobreza é a falta de fraternidade entre os povos e entre os homens (Bento XVI). Se por um lado se verifica redução da pobreza absoluta, por outro há grave aumento da pobreza relativa, isto é, de desigualdades entre pessoas que convivem numa região específica ou num determinado contexto histórico-cultural. Neste sentido, servem políticas que promovam o acesso aos serviços e a oportunidade de desenvolver-se plenamente como pessoa e também políticas que sirvam para atenuar a excessiva desigualdade de rendimento.

6. A redescoberta da fraternidade na economia

As crises econômicas atuais – têm origem no afastamento de Deus e do próximo, com a ambição desmedida, por um lado, e o empobrecimento das relações comunitárias, por outro – que impeliram as pessoas a buscar bem-estar, felicidade e segurança no consumo e no lucro fora duma economia saudável.
As sucessivas crises econômicas devem levar a mudar estilos de vida, recuperar as virtudes da prudência, temperança, justiça e fortaleza.

7. A fraternidade extingue a guerra

Ao muitos irmãos que continuam a viver a experiência dilacerante da guerra, asseguro minha solidariedade pessoal e de toda a Igreja. Esta tem por missão levar o amor de Cristo às vítimas indefesas das guerras esquecidas, através da oração pela paz, do serviço aos feridos, famintos, refugiados, deslocados e a quantos vivem no terror. A Igreja levanta sua voz para fazer chegar aos responsáveis o grito de dor desta humanidade atribulada e fazer cessar as hostilidades, o abuso e a violação dos direitos fundamentais do homem. Apelo em favor do desarmamento por parte de todos, a começar pelo desarmamento nuclear e químico.

8. A corrupção e o crime organizado contrastam a fraternidade

A fraternidade gera paz social, porque cria equilíbrio entre liberdade e justiça, responsabilidade pessoal e solidariedade, bem dos indivíduos e bem comum. Uma comunidade política deve, portanto, agir de forma transparente e responsável para favorecer tudo isto. Um autêntico espírito de fraternidade vence o egoísmo que desenvolve-se nas muitas formas de corrupção, na formação de organizações criminosas que ferem a dignidade da pessoa. Estas organizações ofendem gravemente a Deus, prejudicam os irmãos e lesam a criação, revestindo-se duma gravidade ainda maior se têm conotações religiosas.

9. A fraternidade ajuda a guardar e cultivar a natureza

Em vez de cuidar, deixamo-nos guiar pela ganância, soberba de dominar e não guardamos a natureza, não respeitamos, nem consideramos como dom gratuito que devemos cuidar e colocar ao serviço dos irmãos, incluindo as gerações futuras.
É mais que sabido que a produção atual é suficiente, todavia há milhões de pessoas que sofrem e morrem de fome, verdadeiro escândalo. Por isso, é necessário encontrar o modo para que todos possam beneficiar dos frutos da terra, por uma exigência de justiça, equidade e respeito pelo ser humano.

10. Conclusão

Diz Jesus Cristo: Eu estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc 22, 26-27). O serviço é a alma da fraternidade que edifica a paz.

 

Fonte: Programa exibido na Rádio 9 de Julho no Programa Igreja em Notícia no dia 03/01/2014. Reproduzido aqui com autorização da autora.

Márcia M. de Castro

Márcia M. de Castro
Márcia Mathias de Castro é fonoaudióloga, membro da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo e Coordenadora da Escola de Fé e Política Waldemar Rossi (RE Belém). Também é colaboradora da Rádio 9 de Julho (AM 1.600 KHz - SP), participou da Escola de Governo e do Movimento de Integração Campo Cidade (MICC).