Nesta quarta feira (04/05/2016) deu-se a Páscoa de Nosso querido Mestre Waldemar Rossi.
Assim o chamava nesta caminhada da Escola de Fé e Política que tem a honra de ter seu nome.
Nasceu em Sertãozinho - SP começou sua vida de trabalho como “bóia-fria”, aos 10 anos de idade. Dos 13 aos 27 trabalhou como pedreiro.
Em 1955 conheceu a JOC (Juventude Operária Católica) e, através dela, se inseriu na luta de classes, por ver no irmão operário, explorado, a figura do próprio Jesus. Em 1960, assumiu a coordenação da JOC na Região Sul (SP-PR-SC). Percebeu que a industrialização do Brasil se dava alicerçada na metalurgia e decidiu procurar trabalho numa fábrica metalúrgica, abdicando da profissão original, a construção civil.
Entrou numa fábrica, em maio de1963. Após o golpe de 1964, aprofundou o trabalho de base, de forma clandestina e, começou a participar das atividades do sindicato.
Em1967, nasceu a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, que inspirou a formação de muitas outras pelo Brasil afora.
Fundador, coordenador e grande atuante da Pastoral Operária.
Foi preso e torturado durante a ditadura militar.
Em 1980 "O Cardeal D. Paulo Arns o comunicou confidencialmente que deveria se preparar para fazer a saudação ao Papa João Paulo II em nome dos trabalhadores"
Falou que a escolha se dava por conta da história de militante operário e de militante de pastoral. Certamente pesou também para essa escolha, o fato de pertencer à Comissão de Justiça e Paz, ter sido preso. O assassinato do Santo Dias da Silva e o do Gringo.
Na véspera do encontro, o Dalmo De Abreu Dalari– presidente da Comissão de Justiça e Paz – foi sequestrado pelas forças de segurança, esfaqueado e atirado em terreno baldio.
Waldemar tinha a negação da credencial do comandante do 2º Exército para sua entrada no gramado. Entrou na marra (único nessa condição), com uma credencial deD. Paulo, após enfrentamento com o coronel encarregado da segurança no local de entrada.
Sua rica história de 52 anos de vida matrimonial com a Célia e seus cinco filhos, tem aqui pequenos recortes. Faz parte da busca por um país justo que luta pela vida, a dignidade do trabalhador e trabalhadora, os direitos básicos de saúde, educação, moradia e pelo direito à terra. Ação motivada pela fé cristã e pelo compromisso de viver os valores do Evangelho de Jesus Cristo.
O semeador Waldemar Rossi
Conheci Waldemar Rossi há aproximadamente 7 anos, na Região Episcopal Belém. Em 2012, a Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo iniciou a construção da Escola até que chegou o momento de escolher o nome. Queríamos homenagear alguém que fosse referência na sua caminhada cristã e que tivesse compromisso com a Política. Unanimemente, escolhemos Waldemar Rossi.
Numa noite fomos à sua casa apresentar o projeto da Escola e contar o nome escolhido: Escola de Fé e Política Waldemar Rossi. Ele demonstrou grande emoção, surpresa e na sua humildade autêntica nos disse com voz embargada: "Fico muito feliz com essa escolha, mas tem tantas outras pessoas que merecem ser homenageadas".
Ao escolher o nome, não esperávamos que ele nos acompanhasse. Mas assim ele fez, aos seus 79 anos, fez-se presente todas as segundas-feiras de 2013 a 2015. Uma presença alegre, participativa, semeando consciência com seus comentários a cada aula. Sempre com humildade, acompanhava nossa caminhada. Jamais quis assumir o comando. Mostrava-se sempre presença luz, amiga, solidária e sábia. Ministrou várias aulas, com tamanha propriedade. Um operário autodidata que se formou ao longo da caminhada de militante e discípulo missionário.
Em uma das avaliações, percebemos que a relação Fé e Política acontecia de forma pontual nas aulas sobre a Doutrina Social da Igreja (DSI). Queríamos que essa relação fosse a base do curso. Ele disse: "Eu posso ajudar! Posso preparar a mística relacionada ao tema de cada aula". Assim ele fez: a partir do programa do curso, ele preparava um texto bíblico e/ou da DSI para o início de cada aula.
Como ele conhecia a Palavra de Deus! Com que propriedade ele fazia isso! Quantas vezes o professor mencionava que o conteúdo mais importante da aula, já havia sido apontado pelo Waldemar. Temos depoimentos de alunos, um que dedicava-se a não chegar atrasado, para não perder a reflexão do Waldemar. Outro que nos diz: "Eu não sabia da íntima relação fé e política presente na Palavra de Deus até vir aqui na Escola e participar das reflexões do Waldemar ".
Ele demonstrava muita clareza diante dos fatos, analisava as raízes dos problemas. Não ficava na superficialidade, mas sempre com um sorriso franco na alegria do Evangelho. Waldemar falava das barbáries de ontem e de hoje e da importância do trabalho com a base, da organização do povo em pequenos grupos. Sempre semeando esperança.
Ficava extremamente feliz com as ações assumidas pelos alunos e alunas, inserindo em conselhos de políticas públicas, organizando grupos na periferia e desenvolvendo a consciência crítica.
Na sabedoria de um semeador, sabia da importância de semear e não tinha pressa, nem imediatismos. Falava que as mudanças ocorrem em processos e que os processos precisam ser desencadeados.
Dizia ele: A Escola da Fé e Política é instrumento de conscientização e de ação transformadora.
Por três anos tivemos o privilégio da sua presença e agora é imensa a sua falta, mas..."A luta continua!
Coloco trecho de sua reflexão na aula de abertura da Escola de Fé e Política
A melhor forma de fazer política e a mais eficaz é a da acumulação das forças populares. As mudanças não virão sem um projeto de interesse do povo e pela mobilização popular prolongada e consistente.
Não violência não é a mesma coisa que timidez, covardia, acomodação.
- A coragem e a perseverança são qualidades indispensáveis ao político consciente.
-Busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e tudo o mais vocês receberão por acréscimo.
Em homenagem ao nosso querido mestre semeador que exibia um lindo sorriso, que guardo na minha memória, ao cantar:
Põe a semente na terra, não será em vão!
Não te preocupe a colheita, plantas para o irmão!
Márcia Mathias de Castro