PASTORAL FÉ E POLÍTICA

Arquidiocese de São Paulo

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Escola de Fé e Política Waldemar Rossi

A Economia na ótica do Papa Francisco

Em 14/09/15 a Escola de Fé e Política Waldemar Rossi teve o próprio Waldemar Rossi como ministrante da aula sobre Economia. A Economia à luz do que nos tem falado o Papa Francisco. Segue abaixo o material utilizado pelo professor.

 

CONJUNTURA E O PAPA FRANCISCO

1-          Sistema capitalista em decadência e Estado falido no mundo todo

- Superprodução industrial abarrota depósitos, pátios e lojas. Crescimento populacional e seu consumo de bens duráveis é inferior à quantidade produzida. E a reposição de material desgastado não basta para consumir tudo o que se produz nas indústrias.        

-Cresce a produção de bens de rápida superação (celulares e congêneres) que vão formando verdadeiros depósitos de sucatas, gerando problemas para o meio-ambiente.

- Acumulação de produtos industriais gera o desemprego, para garantir elevados lucros.

- Modelo liberal fez com que os Estados assumissem a assistência às populações, desonerando as empresas e sobrecarregando os Estados. Enquanto o modelo fornecia os fundos com os impostos arrecadados à população, o sistema funcionou.

- Porém, parte da mão de obra descartada na indústria migra para os serviços: emprego público, comércio e suas várias formas de mercado novo.

- Neste momento, entra em cena o NEOLIBERALISMO que cobra dos Estados a garantia do crescimento dos seus lucros: exigem a “redução do Estado”, diminuindo o quadro de funcionários, arrochando salários,

- eliminando direitos conquistados com muita luta popular; repassando empresas públicas rentáveis e estratégicas para a inciativa privada (fonte de lucros: energia elétrica, sistema de comunicação, siderúrgicas, bancos estatais, portos, aeroportos, fontes de petróleo, de água, etc.)

- Exige que os serviços públicos (saúde, educação, transporte coletivo, Previdência) tenham menos investimentos, estimulando o processo de privatização, tornando-os meras mercadorias.

2-  Endividamento dos Estados

- A produção das indústrias de base e da infraestrutura para que a indústria crescesse ficou para o Estado, usando recursos públicos. Como os gastos eram enormes, os Estados passaram a fazer empréstimos junto aos grandes banqueiros, protegidos pelo FMI – criação da ONU – a juros ondulantes e altos; Isto tornou os países mais frágeis – mesmo os europeus – devedores em escala crescente.

- Essas dívidas são a espada colocada na garganta dos governantes desses países. Daí a força para os Estados enxuguem seus gastos e façam fundos para pagar os SERVIÇOS da dívida, sempre crescente.

- Crises insolúveis na Grécia, Espanha, Itália, Irlanda, Portugal. Pressão do imperialismo formado pela Alemanha em parceria com a França, os detentores da economia mais sólida da Comunidade Europeia. Caminham na mesma linha vários países da Europa do Leste (Rússia, Polônia e outros). Capitalismo chegando ao seu fim histórico

3 – Estado Burguês falido

- Porque foi criado para dar sustentação ao capitalismo industrial que se tornou capitalismo financeiro – lucros sem produção própria. Totalmente corrompido no mundo inteiro, em seus Três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Domínio do quarto poder: A ECONOMIA.

4 – China, Japão, Coreia na mesma onda. Índia em ascensão meteórica (+- 10 anos?)

5- América Latina , quintal dos Estados Unidos, sob pressão constante vai entregando todas as sus riquezas.

- Reagem a Venezuela e a Bolívia, seguidas de algum esforço do Chile e Uruguai.

- O mundo está em chamas: guerras e mais guerras; barbárie no Oriente Médio e na África, milhões de mortes a cada ano, milhões de refugiados em verdadeiro desespero. Tudo isso fruto da ânsia pelo poder, pela acumulação de riquezas e exploração capitalista.

6 – Brasil em chamas

- O golpe civil/militar de 68 fez gorar o modelo planejado por Getúlio, de industrialização nacionalista. Os militares impuseram à força o modelo das multinacionais, com base na produção do automóvel, impedindo a autonomia do país.

- O modelo imposto pelo poder das armas, com torturas, mortes, desaparecimento está em vigor até hoje, embora esgotado.

- Nossos governantes não têm visão estratégica para o país. Comportam-se como colonos e mantém o país como colônia dos EUA e do capital financeiro. Todos só pensam em estar no poder e administrar os interesses do capital. São capachos do poder econômico, estão corrompidos.

7 – As últimas medidas do governo

-  Dilma se elege com muito dinheiro doado pelas empresas. Os outros também pegaram muita grana. Dilma garante a continuidade do “superávit primário” e coloca o homem forte do Bradesco – Joaquim Levy, de origem judaica – no planejamento. Ele é o homem do dinheiro.

- Como a crise internacional afeta os negócios  no Brasil, o governo se vê forçado a cumprir seus compromissos de campanha, mas compromissos com os homens do negócio e não com o povo.

- O orçamento cai devido a queda de consumo. O lógico seria reduzir os compromissos com o Superávit, mas isto não agradaria os banqueiros. Logo, reduzir gastos, criar novos juros (que o povo sempre paga), cortar direitos, arrochar salários, repassar mais capital estatal para o privado (petróleo, estradas, metrô, etc...). Caso contrário sofrerá pressão do capital.

8 – Como punir o povo, fazendo-o pagar as contas?

Vejamos os fatos anunciados:

+ 25 de agosto: Dilma diz que governo demorou a perceber a gravidade da crise econômica;

+ - 28 de agosto: Governo propõe recriar CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), com alíquota de 0,38% e vinculação à saúde – a mesma mentira de quando vigorou pela 1ª vez.

+ 29 de agosto: Empresários e Congresso rejeitam volta da CPMF (imposto sobre movimentação financeira); PIB – Produto Interno Bruto - cai 1,9% no trimestre e Brasil entra em recessão;

+ 31 de agosto: Sem CPMF governo envia orçamento (para o Congresso) com déficit: Empreiteiras renegociam contratos (com o governo) e muitos são rescindidos. Crise e desemprego.

- No mesmo dia, Dilma reconhece erro em políticas do primeiro mandato e reavalia gastos sociais... Indica remédios amargos...

+ 2 de setembro: Congresso rejeita pedido de Dilma para salvar orçamento – briga de foice na briga de galos.

+ 3 de setembro: Brasileiro vai menos ao supermercado e reduz volume de compras a cada ida.

+ idem- Deterioração da economia e incertezas com a China levam dólar a R$ 3,69

+ 4 de setembro: Mais categorias (profissionais) aceitam parcelar reajuste de salários em duas vezes;

+ 5 de setembro: Em Madri, levy afirma, perante investidores e empresários, que a recuperação da economia brasileira é questão de meses...

+ 9 de setembro: Com déficit no orçamento, governo admite corte no Minha Casa Minha Vida. Imposto sobre Minha Casa Minha vida vai subir.

+ 10 de setembro: Brasileiro faz bicos ou tem segundo emprego/

+ 13 de setembro: Comércio fecha mais de 57 mil vagas em 7 meses....

Papa Francisco e o sistema.

(50) – Nos conclama a olhar a realidade com “discernimento evangélico”

(52) – Chama a atenção para as grandes mudanças, o crescimento da ciência mas também para a imensa maioria da humanidade que vive seu dia a dia precariamente, com funestas consequências .

(53) – Assim como o mandamento ‘não matar’ põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, hoje devemos dizer ‘não’ a uma economia da desigualdade e da exclusão.

(55) – Diante da supremacia do dinheiro imposta aos povos, Francisco nos convida a dizer ‘Não à idolatria do dinheiro” e recoloca o ser humano como primazia da ação política e econômica.

(57) – Da mesma forma nos pede que digamos “não a um dinheiro que governa em vez de servir’.

(59) “Não à desigualdade social que gera violência”

+ Aos movimentos sociais, reunidos com ele na Bolívia, chama à responsabilidade de estarmos abertos aos desafios de hoje: ‘Comecemos bem por reconhecer que precisamos de mudanças – falando da América Latina e de toda a humanidade.

- Reconhecemos nós que as coisas não andam boas num mundo onde há tantos camponeses sem terra, tantas famílias sem teto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas feridas em sua dignidade?

- Pergunta se reconhecemos que as coisas não andam bem quando explodem tantas guerras e a violência  se apodera dos nossos bairros?

- Enfatiza: “Precisamos e queremos uma mudança”... “uma mudança real, uma mudança de estruturas”. “Este sistema é insuportável! Não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos...”

- Fala da mudança que começa em nossos bairros, na nossa realidade mais próxima, mas dentro de uma visão que aponte para mudanças no mundo todo.

- Nos chama a acreditar em nossas forças, apesar da nossa pequenez. Cada dum, desde o catador de papelão.... Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande parte, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos “3 T”:  Terra, Teto, Trabalho, e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudanças nacionais, regionais e mundiais,

- Fala num “processo de mudanças”

- É imprescindível que, a para da reivindicação dos seus legítimos direitos, os povos e as organizações sociais construam uma alternativa humana à globalização que exclui. Vós sois semeadores de mudanças.

- Colocar a economia a serviço do conjunto do ser humano

- Não esperar dos grandes e dos políticos de plantão.