O Sermão da Montanha ocupa os capítulos 5 a 7 do evangelho de Mateus. A parte narrativa
dos capítulos 8 e 9, tem como finalidade mostrar como Jesus praticava o que ensinava. Ele
rompe com as normas e costumes que excluem e dividem as pessoas. Nas atitudes e na prática
de Jesus, aparece em que consiste o Reino e a observância perfeita da Lei de Deus
Mt.9,9: Tendo partido daí, Jesus viu um homem chamado Mateus sentado na coletoria de
impostos. Jesus lhe disse: “Siga-me! ” Levantando-se, ele o seguiu.
Para entender melhor este versículo é importante lembrar que no direito romano, os
intermediários que em cada país, eram encarregados de cobrar impostos e tributos dos seus
próprios conterrâneos. Eram chamados de publicanos. Eles tinham direito de a parte deles em
cada taxa. A população judaica os detestava. Pela lei eram considerados “pecadores públicos”.
Mateus é um publicano, cobrador de impostos em nome do Império Romano. No evangelho
de Mateus o primeiro chamado feito por Jesus foi de quatro pescadores (Mt.4,18-22). Parece
que Jesus tem a intenção de romper com as normas e costumes que excluíam e dividiam as
pessoas. Como os primeiros quatro chamados, assim o publicano Mateus larga tudo que tem.
O seguimento de Jesus exige ruptura.
Mt.9,10: Ora, aconteceu que Jesus estava em casa sentado à mesa. Chegaram muitos
cobradores de impostos, e sentaram-se à mesa com Jesus e seus discípulos.
Chamando Mateus, Jesus mostra aos pecadores que não leva em consideração o passado
deles, nem sua condição social, ao contrário, acolhe-os à mesa e assim abre-lhes perspectiva
para um novo futuro. Lembro aqui um ditado: “Não existe santo sem passado, nem pecador
sem futuro”.
A Igreja não é uma comunidade de pessoas perfeitas, mas de discípulos a caminho, que
seguem o Senhor porque se reconhecem pecadores e necessitados do seu perdão. O Papa
Francisco diz: “A vida cristã é escola de humildade que nos abre à graça”.
Mt.9,11: Vendo isso, os fariseus perguntavam aos discípulos de Jesus: “Porque o mestre de
vocês come entre os cobradores de impostos e pecadores? ”
O comportamento de Jesus não é compreendido por pessoas que têm a arrogância de se julgar
“justos”, de achar que são melhores que os outros. Essa atitude não permite enxergar o rosto
misericordioso de Deus e agir com misericórdia seguindo o exemplo de Jesus.
O sentimento de superioridade (cultura do ego) e o orgulho são “muros” que impedem nossa
relação com Deus. Jesus não liga para a acusação. Ele acolhe e é acolhido e até faz uma
confraternização com eles.
Mt.9,12: Jesus ouviu e respondeu: “Não são os sadios que precisam de médico, e sim os
doentes. Vão e aprendam o que significa: Quero misericórdia e não sacrifício. Porque eu não
vim chamar os justos e sim os pecadores”
Jesus faz memória do livro do profeta Oseias: “Pois eu quero amor e não sacrifícios,
conhecimento de Deus mais do que holocaustos” (Os.6,6) . Com o chamado de Mateus e com a
reunião em torno de uma mesa, Jesus mostra como rejeita os esquemas e planejamentos que
discriminam as pessoas, tanto do ponto de vista social como religioso.
Jesus se utiliza da Palavra de Deus para ensinar que os fariseus eram muito observantes da lei,
mas não estavam dispostos a compartilhar a mesa com os publicanos e pecadores. Não
reconheciam a possibilidade de uma renovação de vida. Não colocavam em primeiro lugar a
misericórdia. Para Jesus a misericórdia vem em primeiro lugar.