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CNBB - Análise de Conjuntura em Julho de 2012

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Anexo – Entrevista

 

Católicos ainda são maioria no Brasil

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, no dia 29 de junho, o resultado do Censo Demográfico 2010. De acordo com o censo, os católicos ainda são maioria, embora o número de fiéis tenha sofrido uma redução na última década (passou de 73,6%, em 2000, para 64,6%, em 2010). Também segundo a pesquisa há uma maior diversidade religiosa da população brasileira.

A diminuição dos católicos está diretamente ligada ao aumento (de 44%) de evangélicos. Eram 15,4% da população brasileira em 2000 e passaram para 22,2% em 2010. Dos 64,6% da população que professam a fé católica, 72,2% estão no Nordeste, 70,1% no Sul e 60,6% no Norte do País. A proporção de católicos é maior entre as pessoas com mais de 40 anos, chegando a 75,2% no grupo com 80 anos ou mais.

Quanto à restante porcentagem, a análise mostra que 22,2% declaram-se evangélicos, 8% sem religião, 3% outros credos e 2% espíritas.

Pe. Thierry Linard de Guertechin, diretor do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social (Ibrades), organismo da CNBB, acompanhou a pesquisa e responde a algumas questões sobre o Censo:

1)  A pesquisa mostra que o catolicismo continua perdendo fiéis, mas isso não é novidade para a Igreja Católica. Qual a lição que se pode tirar do Censo?
É verdade, não há muita novidade nesses dados. O que chama a atenção é que pela primeira vez o número de católicos diminuiu em termos absolutos. Essa diminuição tem força simbólica. E tem a ver com a queda da natalidade/fecundidade da população brasileira. A diminuição é secular e acentuou-se nestas últimas décadas. Se há alguma coisa positiva para a Igreja, é ela se deixar interpelar pela realidade como se sentiu interpelada na reunião de Aparecida, ao anunciar a MISSÃO CONTINENTAL, que foi pouco implementada. Os dados nos “chamam” para uma implementação da Missão Continental. Outra interpelação é a valorização da Palavra de Deus, uma reapropriação da Bíblia pelas comunidades católicas, como sugerido no último Sínodo. Os dados questionam a centralidade de nossas paróquias na evangelização. Falamos de Comunidade de comunidades. É um caminho, mas de fato pouco experimentado e implementado.

2) O que surpreende na pesquisa? 

Esperava uma diminuição relativa, mas menos forte. Eu tinha estimado uns 130 milhões de católicos, ou seja, 68,4 %. Pois pensava que os esforços pastorais da Igreja teriam maior impacto no resultado. Também tinha a impressão, a partir de observações da visibilidade das igrejas neopentecostais, de certa diminuição do crescimento dos neopentecostais, o que se revelou com a queda de fiéis da Igreja Universal.

Mas com esses dados há uma ambiguidade de ordem histórica. Sempre houve descompasso entre católicos "declarados" e "praticantes" (mais ou menos regulares). Seria interessante conhecer a evolução do número dos praticantes, que no Brasil, pelo menos desde 1970, sempre oscilaram entre 5% e 10 % da população. Esses dados deveriam aparecer, pelo menos parcialmente, quando o entrevistador faz perguntas complementares aos católicos.

3) A que se deve essa diminuição dos católicos?

É um fenômeno secular e complexo. O mapa da distribuição geográfica das populações nos dá alguns elementos de resposta. A Igreja não acompanhou as grandes migrações da população do Nordeste para o Sudeste urbano e para a marcha para o oeste. Os migrantes, chegando ao Rio de Janeiro, foram morar em favelas e periferias onde a Igreja católica não tinha, ou tinha pouca, presença institucional. É significativa a implantação, bem diferente, da Assembleia de Deus. Rapidamente, nasce uma igrejinha onde tem gente chegando, o que explica até hoje o crescimento da Assembleia de Deus. Outro fator é a difusão das religiões segundo o paradigma do mercado. Mercados religiosos invadiram espaços urbanos e urbanizados pregando um evangelho da prosperidade, do milagre...

Também há o fato da identidade múltipla do nosso povo que corre atrás de soluções para os problemas de todo tipo e que hoje estão se declarando menos como católicos, pois o discurso nas nossas igrejas os afasta.

Ligado ao fator da multipertença, podemos notar o aumento dos "Espíritas" e "Candomblé/Umbanda" que ontem se declaravam católicos por "n" razões históricas. Hoje há maior liberdade religiosa e a pessoa pode se declarar ser do “candomblé” sem risco de sofrer perseguição. Os Espíritas se declaravam, no passado, católicos. Hoje há na Igreja um processo de "purificação" institucional.

4)  Como reverter este quadro?

Acho possível, mas exige que sejamos mais evangélicos em nossas pregações da "BOA NOVA". Uma volta à Palavra de Deus como foi lembrado na última Assembleia da CNBB e voltar a ser uma Igreja missionária (ver que a Missão Continental merece implementação).

5) Há críticas há metodologia do Censo?

Não temos elementos sobre a metodologia nesta publicação. Quero lembrar que o IBGE há décadas trabalha com amostras para obter a maioria dos dados do Censo. Algumas perguntas abrangem toda a população para que se possa conhecer e construir o universo que vai servir de base para ampliar a amostra ao universo. Surpreende-me os dados sobre os "Católicos Ortodoxos" que de 2000 a 2010 cresceram mais de 200 %. Este dado é questionável. Vale a pena verificar se houve entrada de 100.000 sírio-libaneses na ultima década. Ou pode ser que tal resultado seja da metodologia que considerou os católicos de rito oriental, o que me parece o mais provável.

                                                  

 

FONTE: CNBB Assessoria Política - Divulgação solicitada pelo Pe. Geraldo Martins.

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