Fome e Sede de Justiça

Os evangelhos foram escritos não para compreender o passado e sim para assumir o presente e apontar e aprontar o futuro. E o futuro pronto é a obra de Deus, é a plenitude do Reino. A obra de Deus, porém, nos inclui, não se faz sem nossas mãos; mas também não se limita nem se restringe a elas. Conta conosco para o seu plano.

Ele é o Arquiteto, é quem assina a planta, providencia os materiais, convoca os operários, dá as diretrizes. Não nos algema a liberdade, porém conta com nossos olhos, atentos, para a leitura da planta. A obra há de ser espaçosa, acolhedora, com lugar digno para todos. A obra nos cobra o suor aqui, nos limites do nosso tempo, com nossos olhos falhos, com nossos caprichos alvoroçados, com nossas fomes, com nossas sedes.

A justa medida de nossas fomes, de nossas sedes não nos é dada por nós, mas por ele. Ele é quem nos conhece em profundo, ele é quem nos prepara a morada! Morada para todos, para o bem de todos, para a alegria de todos, para a felicidade de todos. De todos os seus filhos e filhas!

Ou nos moldamos por essa planta, ou não estaremos justos, nem conosco nem com nossos semelhantes. Tudo o que chamarmos de felicidade terá peso descomunal para alguém carregar, preço muito alto para alguém pagar, se nossa fome e nossa sede buscarem outra mesa (Mt 5,17-20).

Em Jesus temos a justa medida! Qual foi a fome de Jesus? Qual a sua sede? Como encarnou a salvação? Qual foi sua prática? Quais foram suas exigências, recomendações? Como viveu o Reino?

O resgate do que anda perdido. Não basta estar com o que vai bem, é preciso reintegrar o que se perdeu (Lc 15,8-10), o que se desgarrou (Lc 15,1-7), também aquele que desperdiçou o que tinha de melhor (Lc 15,14). Não basta o pai acolher o filho arrependido: se o irmão não o acolher, atravanca a fluidez do Reino - um irmão tem de cair em si, rever sua futilidade (Lc 15,11-16), o outro, sair de si, rever sua moral (Lc 15,25-30). O pai quer os dois em convivência (Lc 15,22-24; 31-32), livres de si e de próprios caprichos (Lc 15,17-21). Sentimentos, palavras não bastam, conta a atitude de vida (Mt 21,28-32).

jesus-03Jesus não se conformou com a mentira religiosa impingida ao povo (Mt 5, 21-48; 6,5-18; 15,10-20), nem com a mentira social a que era empurrado (Mt 6,1-4.19-34; 15,29-31), nem com a mentira política que às suas necessidades fazia vista grossa (Mt 7,15-20; Mc 6,17-29; 11,15-18).

Para Jesus não basta integrar-se na paz que aí está, essa precisa ser desintegrada: não é paz, é submetimento, (Mt 23,1-7), é manipulação (Mt 23,23-34), é exclusão (Mt 9,10-13), desleixo (Mc 5,25-34), preconceito (Jo 9,1-41), abandono (Jo 5,1-18). Nossa fragilidade e impotência não nos dão o direito de desistir. Deus conta conosco! Ele escreveu um desafio em nossas fibras - fome e sede de justiça! - para continuar agindo em nosso chão (Mt 9,35-38). Diante de tal desafio, nós estaremos sempre devendo, mas seremos sempre mantidos como parceiros na construção do Reino. Ele é a plena possibilidade!

A felicidade e a paz se farão na medida em que os que têm sede e fome de justiça puderem constatar e assumir: “Agora está bem, mas vamos olhar tudo novamente, para que ninguém fique excluído!” Nem que lhes acenem com a cruz, de que temos medo. Deus paga com ressurreição!

 

 

FONTE: O Artigo de J. Thomaz Filho nos foi enviado diretamente pelo autor.